terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Who wants to eat a billionaire?

Outro dia que começou a arrastar os pés... Noite mal dormida (desta vez com razão, culpa de 30 Rock). Injúrias dirigidas ao despertador. Outras dirigidas ao Universo ao ver a chuva a cair lá fora.  Mas com reunião multidisciplinar de Intestinal Failure às 08h chegar tarde não é uma opção. Aparentemente o Universo hoje estava em mode good guy e não em mode scumbag. A caminho do pequeno almoço vislumbre de hot flatmate a passear pela casa de toalha (já que não há gente seminua no The Cupboard ao menos que a minha casa seja um bocadinho Greyesca). A chuva parou no exacto momento que saí de casa. O café da entrada do hospital tinha leite de soja (café só consumível se disfarçado de latte, cappucino ou outra mariquice). Boas notícias na reunião: esta semana chegam mais 2 doentes com short gut para avaliação inicial, portanto vou poder acompanhar todo o trajecto. Convidada para mais um trabalho. Curry fabuloso na cantina do hospital (a sério, até a Drª RM aprovaria). Consulta da tarde a acabar mais cedo, e no momento exacto que parou de chover. Caminho para casa ao som de uma rádio que parecei uma playlist escolhida por mim (demasiado tecno-excluída para conseguir pôr música no tlm, mas não tanto que não tenha descoberto como funciona o rádio do mesmo). E 2 horas a matar a saudade cara a cara graças às novas tecnologias. A distância já não é o que era. Mais um dia destes e viro Pollyana (link para quem não cresceu no Brasil).

Random observations from the hospital:
- há uma série de gente no hospital que compensa o seu stern look de gente crescida com meias ridículas (à la Booth, para quem vê Bones). Uma vez que se repara, elas estão em todo o lado, nos pés menos esperados. Vi meias do PacMan, Bart Simpson, riscas à Tim Burton, gatos, renas, bolas, Super Man e Batman.
- outra coisa estranha que me estava a incomodar: onde andam os pós-operatórios? Até hoje não vi nenhum penso na consulta. Perguntei. Vão todos directamente para o GP e community nurse. A desculpa é que com a quantidade de filet mignon que têm (e é verdade, desde que cá estou já foram 5 atrésias do esófago, 4 atrésias intestinais e 2 malrotações, só na sala dos RN... Rabos já perdi a conta) não conseguem ver os pós-operatórios imediatos na consulta. Além disso, os doentes muitas vezes vêm de longe, blá blá blá. Discordo. Eles próprios admitem que o pior é a parte inicial, e que depois muitas vezes os doentes se queixam que passaram semanas sempre a recorrer ao GP. No entanto, o apoio que eles têm de enfermeiras, técnicos de saúde, etc, na comunidade é surreal. Até o psicólogo vai a casa...
- aqui publicam como se não houvesse amanhã. Todos os internos estão constantemente a escrever um artigo ou uma revisão ou qualquer coisa para um congresso. Há mesmo uma cultura disso. E matéria prima...
- existe um budget anual atribuído a cada interno para congressos e formações. No comments.
- os processos são uma coisa do demo. Nesse aspecto estamos a anos-luz. Não existe informação praticamente nenhuma informatizada. Tudo em papel. Dá vontade de gritar. Praticamente a única maneira de  encontrar de forma rápida a informação do doente é ir à parte da correspondência (depois de todo e qualquer contacto com o doente - consulta, cirurgia, exame - é ditada e redigida uma carta ao GP com a informação, ficando uma cópia no processo). O problema é encontrar as cartas no meio das montanhas de papel. As admnistrativas até têm carrinhos para transportar processos...

Momento estranho do dia: acho que já penso em inglês. Depois de anos a tentar perceber com que sotaque é que conduzia os meus diálogos interiores (brasileiro em casa e com família, português no trabalho, restante tempo depende), lá vem mais um factor de confusão. Dei por mim a fazer a lista mental do supermercado em inglês...

Por falar em supermercado: HELP! Preciso de uma intervention. Quando pensava que o millionaire shortcake era um bocadinho de céu, eis que aparece a billionaire cup...



3 comentários:

  1. Pois é o SAM é uma enorme ajuda... Mas é preciso lá escrever embora menos que os bretões que gostam muito de mandar cartas aos GP, porque são os GP que são os donos dos doentes e como tal pagam eu disse pagam aos hospitais os cuidados cirúrgicos, logo é muito importante tratar bem quem lhes paga. Ergo as cartas tipo: my dear dr. so and so, i have just observed your patient, so and so that has an enormous inguinal hernia that deserves a proper operation, that well be performed by me next.......
    Cuidado com as auditorias que eles receiam tanto, porque os papeis devem lá estar todos bem como as tais cartinhas de amor, e dinheiro...
    Saca lá um ou dois trabalhos para o cv que ficavam muito bem para impressionar os das bacinas... E já agora se quiser publicar algum dos nossos trabalhos também era bem visto
    Keep on rising early in the morning

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Dear so and so, thank you for refering the lovely this and that to my clinic, who I had the pleasure to observe with her mum. The child seems well in herself, opening her bowels daily...

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