First impressions

 A primeira impressão do RMCH não foi fabulosa. Apesar de já duvidar da famosa organização britânica (graças a Miss OvoMolePodre), ainda tinha alguma fé que o corpo clínico do hospital seria melhor. Well, not really... Ainda não consegui perceber como funciona o Departamento, nem quantas pessoas tem, nem o que fazem. Existem equipas, mas ainda não sei quem é quem. Ao que parece os horários são definidos semanalmente. As consultas e os dias de bloco são quase aleatórios. Existem várias classes de "internos" - House Officer, Senior House Officer, General Trainee, Registar. E os consultants. E eu ainda não percebi muito bem quem é quem.  As saudades que tenho do organigrama do Chefe... 

 No entanto, apesar da confusão, fui muito bem recebida. Os 10 internos (incluo todos na mesma definição) são muito simpáticos, malta bem disposta. Passei a primeira manhã no "The Cupboard", uma sala com 2x2 m2 num dos corredores do bloco operatório (sim corredores, porque tem vários...), o verdadeiro Op Center dos internos. Tendo em conta que o hospital tem tanta rede como o HSM, é mais fácil drop by do que mandar um "bleep" (hehehe, sim, bleep e não bip). Lembra a sala de internos da Anatomia de Grey (sim, eu assumo, eu vejo e gosto), com a diferença significativa de que ninguém anda a passear por ali em tronco nú. 

 No que diz respeito aos consultants, ainda só estive com o chefinho-to-be. Reencontro simpático, mas apressado. Ainda não percebi muito bem como vai ser a minha vida, mas por enquanto estou feliz só com o tag along... 

A primeira tarde foi logo passada na consulta - Bowel Management Clinic (aviso aos leitores mais sensíveis, começa agora a conversa do cocó e da tripa). O MACE não tem muitos fãs por aqui. Vi estomas normais (um deles chamado Betty...), ACE com botão. Pontos negativos: processos totalmente em papel. Pontos positivos: enfermeira especialista em estomas acompanhando a consulta  (luxo), meia hora para cada doente (luxo versão Singapura Airlines).

Intermission hospitalar. Saí às 6, o que equivale às 21:30 continentais. Noite cerrada desde as 16. Lojas a fecharem às 18. O centro comercial (!!!!!!!) a fechar às 19. Aparentemente tudo fecha cedo excepto a porcaria do do bar de estudantes que fica por baixo da janela do meu quarto de hotel. Esse bomba até às 02h... Apesar de tudo, acabou por ser uma noite animada, graças aos contactos facilitados pela ex-senhoria. Logo na minha primeira noite na cidade tive direito a um convite para jantar e companhia para o café. Muito simpática por sinal. Bom presente de boas vindas...

A manhã seguinte começou cedo - às 08h estava a entrar na primeira reunião com o meu cházinho to go na mão (o café é caro e asqueroso). Reunião do Intestinal Failure Multidisciplinary Group. Só faltavam os Drs do Nariz Vermelho e a senhora da limpeza - play therapist, fisioterapeuta, enfermeira da comunidade, enfermeira do serviço, nutricionista, farmacêutica, cirurgião, gastroenterologista, pediatra do desenvolvimento, psicóloga. Se a Drª RN tivesse metade deste apoio na nossa chafarica tenho a certeza que por esta altura era Manchester que nos estaria a referenciar doentes. Já comecei a ficar impressionada. Pontualidade britânica. Discussão to the point, sem perder tempo em temas paralelos. Tempo de antena igual para todos os profissionais. E término à hora combinada.

Appointment seguinte: Neurologically Impaired Children with Feeding Problems Clinic (eles são específicos a este ponto). Outra vez comício: pediatra, enfermeira da comunidade, nutricionista, cirurgião e eu. Grande oportunidade de sociabilização, já que só apareceram 2 dos 6 miúdos agendados. Outra vez, com meia hora de consulta cada um. Tempo para tudo... Até para descobrir que a nutricionista chegou em 16º lugar na maratona de Frankfurt (respect). Facto interessante cirúrgico: gastrostomia continente com flap. Nunca tinha visto nenhuma. 

Almoço no The Cupboard, saladinha comprada no Tesco da entrada. Sentada no chão, porque já estavamos com lotação máxima. Nota mental: lembrar a malta do HDE que é preciso chatiar o Chefe para nos encontrar uma sala dos internos.

 Tarde no bloco. Que tem 10 salas. Duas só para a urgência. E cada sala tem o tamanho de um salão de baile. Com direito a sala de indução anestésica. E aventais de chumbo leves e com bonecos. Outras observações pertinentes sobre o bloco:

- as instrumentistas fazem pouco; é o próprio cirurgião que abre a bata e luvas para uma mesa ao lado da zona de lavagens, e a mesa de ferros é desarrumada...

- assépssia QB. Só quem está desinfectado usa máscara. Não existe propriamente um transfer, anda-se com a roupa da rua pelos corredores, a única zona interdita é o interior das salas

- os fatos de bloco são confortáveis e tem tamanhos quase humanos.

Os cirurgiões daqui tratam-se bem. Programas com 1, 2 doentes, mais só se forem EUA (examination under anesthesia). Portanto, só um doente na minha sala. (Outra vez aviso aos estômagos sensíveis, começa a conversa de faca e sangue) MAR com fístula perineal, 18 dias de vida. Para quem me perceber: não fazem PSARP. Transanal proctoplasty à la Bianchi. Asseguram que os resultados são semelhantes. Parece-me mais trabalhoso, com uma vantagem mínima em relação à cicatriz. Enfim, habilidades. Serviu para perceber que há vida para além do Peña...