quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Musical munchies

  A Primavera chegou de vez. Percurso matinal feito ao sol. Os óculos escuros já tem lugar cativo na mochila. E apesar de continuar a sair do hospital tarde e a más horas, ao menos ainda há luz...

 Dia deveras relax no hospital. Ward round, consulta de manhã e hanging out com o consultant que estava de banco à tarde, à espera de coisas interessantes. Que não apareceram. Valeu pela conversa e pelas gargalhadas. Tudo soa melhor com sotaque escocês.

 À noite, programa cultural. Ida ao teatro ver The Grand Duke by Gilbert and Sullivan, no RNMC, com a malta do hospital. A filha de um dos consultants entra na peça, e tivemos direito a bilhetes à borla. O pre-show dinner foi cancelado à última hora por atrasos no bloco (é o que dá combinar coisas com cirurgiões). Portanto, fomos ver a peça de barriga vazia. Apesar das boas vozes, tudo o resto era demasiado amador. Entre a fome, as cabeçadas de sono, e o facto de já estarmos todos um bocadinho perdidos no plot, resolvemos fugir no intervalo para jantar. Acho que só família, significant others e bons amigos é que aguentaram até ao fim... Nova aventura. Tentar encontrar um sítio decente para jantar às 9 da noite não é fácil. As opções são comida de ressaca (kebab e companhia) ou pub cheio de bêbados. Lá encontramos um italiano simpático. Boa pizza, massa ainda melhor. Muito mais apetitoso que a segunda parte do musical.

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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Museum monsters

 Ontem combinação mortífera: sala cheia de sevofluorano + noite de insónia + jantar pantagruélico no buffet chinês às 19h = na caminha a fazer óó às 20h30. Dormi 10 horas como um anjinho. Nem me lembrava do que era dormir tanto...

 Os umbigos estão na moda. Ontem uma persistência do úraco, hoje uma persistência do canal onfalo-mesentérico com direito a divertículo de Meckel. Nunca tinha visto nenhum dos dois. Educativo. 

 Na enfermaria, mais uma reprimenda de uma das matrons. Estava à procura de um processo ao pé da nurses' station (cantinho das enfermeiras), e pousei o café na bancada, ao lado dos computadores, para ter as duas mãos livres. Qualquer coisa como 1 minuto. Já estava com café e processo na mão, a caminho da sala dos médicos, quando a matron veio a correr atrás de mim, a dizer que tinham feito queixa de mim, e que deixar o café na mesa das enfermeiras era "totally unaceptable". Isto dito com um ar de quem me queria bater. Totalmente desnecessário. Um aviso educado teria sido suficiente. E evitável se as totós da enfermaria não andassem a roubar os processo da sala dos médicos... Não gosto das matrons e sisters. Prefiro as nossas enfermeiras. Mais simpáticas e honestamente mais competentes.



 Ordem de soltura às 15h. Yupi! Tarde de sol, ao ponto de precisar dos óculos escuros. Duplo yupi! Aproveite para passear pelo campus da Universidade, que na realidade atravesso todos os dias a caminho do hospital, mas que nunca tive tempo para explorar. Como o resto da cidade, mistura de edifícios vitorianos com outros mais recentes. Com uns quantos relvados e jardins à mistura. Estudantes em todo o lado. Muitos espalhados nas escadas e relva, a aproveitar o solzinho. Um grupinho a treinar malabarismos. Se economia e engenharia não providenciarem um bom futuro podem sempre aproveitar o exemplo lisboeta e perform nos semáforos de MCR. Passeio a terminar no Manchester Museum. Bela surpresa. Museu eclético, com direito a moedas, artesanato africano, múmias, e uma secção espectacular de história natural. Com direito a expositores vitorianos de madeira e animais empalhados, e modelos monstruosos e esqueletos de dinossauros. Old school mas com um toque moderno. A programar regresso com mais tempo. No caminho para casa, momento deveras Fame. Todos os dias passo pelo Royal Northern Music College, mas do lado oposto da rua. Hoje passei mesmo em frente, e reparei que há janelas para as salas de ensaio. Um trio de violinos, um piano e um violoncelo, uma jovem a tocar oboé. Só faltou alguém a dançar em cima das mesas....

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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Upside down

 Monday morning Morbidity and Mortality meeting (agora repitam 3 vezes de seguida rápido). Continuo impressionada com a capacidade analítica e crítica desta malta. Discussão civilizada, objectiva e constructiva. Depois da reunião fui convidada a participar na sessão de Teaching dos alunos do 4º ano. Basicamente, discutir o trivial da cirurgia pediátrica e alguns highlights (ou seja, hérnias e pilinhas e atrésias do esófago e hérnias diafragmáticas). Em defesa dos alunos, não tem medo de falar. Contra eles, também, não tem medo de falar baboseiras. Fiquei pouco impressionada com este grupo. Não pela falta de conhecimento em Cir Ped (que é totalmente perdoável), mas falta de conhecimentos cirúrgicos no geral. Em discussão posterior com a minha aluna porreira (a que é inteligente e traz homemade cookies), descobri que na Universidade de Manchester ( e em mais algumas, o currículo não é igual para todas as escolas) pode-se fazer todo o curso de Medicina sem se passar por um estágio cirúrgico. Todos os estágios cirúrgicos são electives. Acho mal. Além disso, metade do curso é constituído por "fluff", cadeiras que não são propriamente científicas ou clínicas. Management, quality control, patient satisfaction. Pelo que percebi, os alunos não andam muito contentes com isso. No ano passado o curso de Medicina de Manchester foi um dos que teve pior classificação a nível nacional relativamente a satisfação dos alunos. A administração ficou passada, e resolveu o problema de uma forma simples: ofereceu um Ipad a todos os alunos dos anos clínicos. Com o objectivo de... Enfim... Estão a desenvolver uns programas e cenas... E... Pois... Os alunos chamam-lhes os Bribepads. Parece-me adequado.

 À tarde, Short Bowel Clinic. Já começo a conhecer algumas caras. Bom para mim, normalmente mau sinal para a criancinha. Continuo completamente maluca com a dieta desta gente.  Para mim  roça os maus tratos... Tendo em conta que estes miúdos não são propriamente saudáveis para começar, uma dieta baseada em comida de microondas não me parece boa idéia. Tive esta discussão hoje com a dietista que acompanha a consulta, para tentar perceber se é uma questão financeira ou cultural. Segundo ela é em grande parte cultural. As pessoas simplesmente não sabem cozinhar. E também, diga-se de passagem, os supermercados daqui não são muito fresh produce friendly.

 Para contrabalançar o excesso de criançada na minha vida, a minha turma de yoga inclina-se bastante para o outro lado do espectro. As aulas não são propriamente muito desafiantes em termos físicos, mas sempre dá para alongar a coluna. Porém hoje a professora resolveu animar a aula com algumas posturas invertidas, em que ficávamos pendurados de cabeça para baixo em cordas fixas à parede (parece um bocadinho S&M, mas não é). Retornaram todos à infância. Um pouca a medo inicialmente, lá foram um de cada vez, ajudados pela prof. Nunca os vi tão felizes. Risinhos, gritinhos, pedidos de repetição. Adorei. E apesar do meu medo inicial, ninguém partiu a bacia nem tive que reanimar ninguém...

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Culture, conversation and cold beer

 Ah, London, London... Gosto destas visitas de semi-turista. De encontrar coisas novas, mas ter tempo para revisitar old favourites. Sábado de manhã saí resolvida a conhecer o Sir John Soane's Museum, em Lincoln's Inn Fields. Quando lá cheguei, deparei-me com uma fila com tempo médio de espera para entrar de 45 min. A vontade de visitar o museu esmoreceu muito rapidamente. Sem falar do frio que estava na rua. E que do outro lado do jardim estava o Hunterian Museum, cheio de gore cirúrgico. Velho conhecido. Mesmo assim, entretenimento até à hora do almoço, perdida entre jarros com espécimens e intrumentos cirurgícos antigos... Regroup com anfitriões e companhia para almoçar no Borough Market. Foodie heaven. A quantidade de cheiros e cores é suficiente para confundir o cérebro. E decidir o menu? Tortura... Almocei uma fabulosa sandes de venison e wild boar. Na fila, que espanto, outro grupo de tugas. Estão em todo o lado. Por vezes sinto-me quase em Lisboa. Sobremesa: chocolate gooey brownie. Um verdadeiro tijolo de chocolate, tão denso que fui obrigada a admitir a derrota e guardar metade para o lanche. Para fazer a digestão, longo passeio pelo South Bank, a maldizer o frio. Caminhada até Covent Garden, para reunir com outros emigras e fazer um programa realmente inglês: ver o jogo de rugby no pub. Com direito a uma aula de Rugby 101. No fim do jogo já percebia o suficiente para saber a altura correcta de gritar palavrões. Depois do jogo, mudança de pub e mais umas quantas adições ao grupo. A determinada altura alguém perguntou se havia jantar. Resposta em uníssono: "Eating is cheating!" Do pub directamente para o Karaoke Box. Jantar acabou por ser pizza ao som de vozes esganiçadas. Ao fim de 2 horas, já sem voz, próxima paragem para os resistentes: Reflex. Imaginem voltar atrás no tempo, lá para os idos anos 80. Aqui não é só a música que é retro. Roupa, cabelos, maquiagem, tudo. A malta leva isto mesmo a sério. Adorei. Melhor parte: within walking distance de casa. No caminho de volta, tentativa de levantar dinheiro para o kebab. Sem perceber como, acabei por levantar euros e não libras. Nem sabia que era possível...

 Manhã seguinte, rise and shine às 09h. Deixei os anfitriões dormirem e fui dar uma volta até Oxford Street. O plano era andar até ao British Museum. Mas a meio do caminho encontrei a Foyle's, uma livraria com 5 andares, e acabei por andar perdida durante 3 horas... Se não tivesse recebido um telefonema da minha anfitriã provalvemente ainda estaria por lá. Quick metro ride até Brick Lane. People watching and bargain hunting enquanto o tempo permitiu. Para aquecer, exposição do Roy Lichenstein no Tate Modern. Só mesmo para provar que a minha vida não é só cerveja... Comboio de volta para Manchester, com alma renovada...

sábado, 23 de fevereiro de 2013

I see Hollywood people. Walking around like regular people

 Dia perfeito. Acordar de manhã sem despertador (às 08h, mas mesmo assim...). Pequeno almoço num hotel hip and cool em Old Street com a anfitriã. Eggs Forrester e boa conversa. Seguido de passeio até à National Portrait Gallery, para ver a exposição de fotografia do Man Ray. Que é fabulosa. Com direito a celebrity sighting. A determinada altura dei um encontrão a um senhor grisalho. Quando me voltei para pedir desculpa dei-me conta que era o Richard Gere. Apesar do cabelo totalmente branco continua muito charmoso. E com um belo sorriso... A seguir, exposição de fotografias da Marilyn Monroe. Also fabulous. Depois de vaguear por mais 2 horas pelas galeiras, merecido cházinho no bar do museu, que tem uma vista lindissíma sobre Londres. Em seguida, very nice stroll por Soho e Covent Garden, para acabar numa transversal manhosa, num restaurante de Dim Sum já conhecido da anfitriã. Almoço às 4 da tarde. Mas almoço à mesma. Seguido de uma decisão difícil e dolorosa: para sobremesa um cupcake da Humming Bird ou um chocolate cheesecake da Etos? Decisions, decisions... Acabou no cheesecake....Depois casa, para apanhar o anfitrião e o 3o mosqueteiro e seguir para jantar. Desta vez foi italiano. Vantagem de passear com os locals: conhecem a cheap London. Restaurante muito simpático, boa comida, bom vinho, tudo pela módica pechncha de 20£. Em seguida, para aquecimento,  bar com hip hop dos anos noventa para maiores de trinta. Very  old school. Para continuação, bar de salsa/latinices. Respirei fundo, bebi um mojito (impecável, por sinal) e put on my dancing shoes. Acabou por ser divertidíssimo. Na volta para casa, pit stop no Melhor. Kebab. Do. Mundo. Segundo anfitriões. Na minha opinião não era mau, mas o facto de ficar a 50m de casa, no trajecto de volta da zona dos bares deve ajudar bastante...

 Planos para amanhã: Borough Market para foodie tourism. Outros planos a serem determinados pelo mood do momento. Adoro ser turista sem stress...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Long weekend

 A tempestade já passou. Back to my bubbly self. Afoguei as mágoas com um burrito e várias cervejas, uma das quais no restaurante mancuniano do Jamie Oliver, Jamie's Italian. O local é muito giro, um antigo banco. As casas de banho são no cofre. Ouvi dizer que a comida é muito boa. Já ficou acordado regresso para jantar.

 Hoje no hospital 3 salas com tretas. Mas lá desencantaram um RN para alegrar o dia. Atrésia duodenal. Abordagem peri-umbilical. Acho que percebi o truque. E a exposição é equivalente, só envolve esticar um bocadinho mais a pele.

 Coisas estranhas que vi no hospital nos últimos tempos:
 - médico de chinelos tipo birkenstok sem meias na unidade de cuidados intensivos
 - enfermeiro a fumar cigarro electrónico no bloco
 - visita médica interrompida porque era hora de rezar
 - pequeno almoço "quente" servido aos doentes da enfermaria ( é o equivalente do pequeno almoço inglês que se come no algarve, com bacon, feijões, ovos, etc)

 Apesar de ter sido muito bem recebida, e de considerar que realmente tenho amigos aqui, por vezes é preciso ver uma cara conhecida. Portanto pedi uma folga para 6@ e cá estou em Londres, acampando no sofá do costume. Três dias de cultura e copos. Just what the doctor precribed.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

...

Hoje é um dia não. Não há paciência para escrever. Tenho a certeza que amanhã vai ser melhor.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Good clean family fun

 Hoje foi difícil sair da cama. Mas valeu a pena. Manhã primaveril (se ignorarmos os -3ºC). Fui de óculos de sol para o trabalho. Quem diria...

 No hospital manhã passada na consulta. Sem nenhum descritivo especial para além de "General Paediatric Surgery". É bom saber que não somos só nós a receber referências da treta. Dos 8 doentes vistos na consulta, 2 carrapetas para o bloco e 6 directamente para casa, sem passar pela casa partida e sem receber marcação para próxima consulta.

À tarde, mais uma prendinha da NICU. Hérnia diafragmática nascida no domingo, em condições de ir ao bloco. Já agora, lista de RN operados no fim de semana: malrotação, ileus meconial perfurado, NEC. Estou a tentar convence-los da minha fama de amuleto de boa sorte para as hérnias diafragmáticas. A de hoje correu bem. Pode ser que cole. Discussão interessante com a anestesista acerca de extubações precoces. Segundo ela, só não extubou o doente de hoje a pedido do cirurgião. Aqui são apressadinhos em tudo. As gastrosquisis saem extubadas do bloco. A última malrotação que vi (operada por via circumbilical)  foi para casa (sim, casa) ao fim de 5 dias. E pelo que vejo os pós-operatórios são calmos, sem grandes dores ou desconfortos. Food for tought...

Programa social do dia: jantar de família. Uma amiga do hospital convidou-me para jantar com os pais e o irmão. Já tinha saudades de comida da mamãe (mesmo que não seja a minha). E de jantares de família. Adorei. Às vezes é dificil acreditar que só conheci esta malta há 6 semanas... Time does fly when you are having fun.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Red tape rules

 Monday morning meetings. Primeiro hand over com weekend update, que leva sempre uma hora, seguida de reunião com a Radiologia para discussão de casos e cravanço de exames. Depois escapadela para buscar café pretencioso. Sou obrigada a confessar que estou a ficar seriamente agarrada. Apesar do preço. Largar um vício é só abrir uma vaga para outro. Enfim... Do café para a sessão de Teaching. Hoje foi com uma das administradoras do Trust, responsável pela Cir Ped. Tivemos direito a uma pequena introdução ao NHS, e de onde vem os fundos, blá blá blá, para explicar porque é que é importante preencher os papelinhos todos. Porque se não se cumpre com os objectivos burocráticos não há dinheirinho para ninguém. A estrutura burocrática daqui é ainda mais absurda que a do SNS. E o método de financiamento dos hospitais ainda mais estranho. Embora estejam ambos igualmente falidos. E aqui as medidas de poupança são um tanto ou quanto esquizofrénicas. Por exemplo, não são fornecidas fraldas para além das 1as 24h de internamento. Mas no bloco abre-se uma série de material antes mesmo da cirurgia começar (referências vasculares, amendoins, etc) que muitas vezes nem sequer são usados. First world problems...

 Tarde na consulta. Continuo a ficar impressionada com os hábitos alimentares daqui. Ainda não vi uma única pessoa entrar na consulta com uma garrafa de água na mão. Mas toda a gente traz Coca-cola ou similar. Mesmo miúdos de 3 anos. E batatas fritas. Surreal. Ainda bem que esta é uma consulta específica para miúdos com poop issues (too much or too little), para quem a dieta não faz diferença nenhuma...

 Regresso a casa coincidente com pôr do sol. Gotta love pink sunsets... Em casa, procrastinating like a boss. Até me dei ao trabalho de fazer o jantar (tá bem, tá bem, descongelar é um termo mais correcto). Agora não tenho mais desculpas para não trabalhar. Damn.

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domingo, 17 de fevereiro de 2013

On the Waterfront

 Há uma campanha publicitária da Twinings cujo slogan é "Gets you back to you". Não sei se é por causa dos litros de chá que tenho consumido, ou se pela mudança completa de ares, mas ultimamente ando a sentir-me "eu" outra vez. Devagarinho, pequenas coisas que eu fui perdendo com o ram ram da vida adulta estão a voltar. Música, livros, filmes, caminhadas. Tempo livre e possibilidade de ser egoísta fazem maravilhas. Já quase percebo porque é que fui carded no outro dia... Hoje foi um bom exemplo. Depois de uma semana com neve e chuva, o fim de semana foi uma primavera prematura. Good guy Universe. Aproveitei para finalmente conhecer Salford Quays, que é mais ou menos a Expo cá do sítio. Antiga zona industrial, onde acaba o sistema de canais de MCR. Agora zona de entretenimento + serviços + habitação. Quinze minutos de tram, banda sonora cortesia da minha nova rádio favorita. Paisagem industrial-decadente mixed com industrial-renovado/design. Alguns descampados. Última paragem em frente aos novos estúdios da BBC. Caminhada ao longo dos canais, a aproveitar o sol. Grande promiscuidade entre edifícios institucionais e de habitação. Para não variar, janelas enormes e varandas. Por muito que se tente resistir, há sempre um momento Peeping Tom: uma mulher a regar as plantas de pijama, 3 pessoas a beber café na varanda, um jovem de boxers ao telefone, uma criancinha pequena aos pulos (propositadamente fechada do lado de fora da varanda?). E grande promiscuidade entre moderno e clássico. De um lado do canal, século XXI, do outro, século XIX. Casas de dois andares, de tijolinho, com direito a jardim e gnomos de jardim (e até um Shrek). Manchester no seu melhor. Em algumas zonas dos canais preservaram a maquinaria dos portos. Encontrei a versão mancuniana da Vigorosa e da Poderosa. Pequeno detour para visitar o estádio do Machester United. Se existe sobre a face da terra, existe na loja oficial com um logo do Manchester U estampado em cima. De chupetas a guardanapos, passando por tudo o resto. Regresso à beira dos canais, até ao Imperial War Museum. Edifícío espectacular. Exibição principal interessante. Exibição temporária "Saving lives: frontline medicine in a century of conflict" fabulosa. Uma timeline evolutiva de todos os aspectos da medicina de guerra. desde a WWI até ao Afganistão actual, transporte de pacientes, tipos de lesões, cirurgia e reabilitação. Secção particularmente interessante sobre a evolução da cirurgia ligada às guerras, nomeadamente ortopedia e plástica. Fotografias dos retalhos pediculados do Gillies, e prótese usadas para substituir narizes. Awesome. Depois do carnage, arte no The Lowry, um museu/teatro/escola/restaurante. Exposição sobre Pete Blake, que criou a capa do Sgt. Peppers's Lonely Hearts Club Band. Also very cool.

 Depois de ver o pôr do sol, casa. Esforço comunitário para fazer o jantar (a minha contribuição foi amusing conversation e cortar o pão). Bruscheta com bacon e cogumelos. Yummi. Descobri mais uma tentação por aqui: gelado Magnun versão embalagem à la Haagen Dazs. Dark chocolate with chocolate fudge center. Decadente. E muito bom. Vou aproveitar a minha new found friendship com o serviço de Nutrição do hospital para perceber se é possível sobreviver unicamente de doces. Facilitava-me bastante a vida.
















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sábado, 16 de fevereiro de 2013

Chilling out in Chester

 Para provar que a minha vida aqui não é só cerveja, também é cultura, hoje fui passar o dia a Chester. Fica a 60 km de MCR (1 h de comboio), basicamente na fronteira com o País de Gales. Aliás, da cidade avista-se Snowdonia. Sítio tranquilo, turístico qb, com direito a castelo,  muralha e anfiteatro romanos, catedral e centro histórico medieval (uma parte for real, outra parte revival vitoriano).
 Dia fabuloso, até com direito a óculos de sol (tive que lhes limpar o pó). Viagem de comboio tranquila, paisagem variando entre florestas e campos, até com direito a ver aves de rapina em pleno momento de caça (falcão? águia? não tinha um guia ornitológico comigo). Belo passeio a pé, começando pelos canais e acabando na muralha. Volta completa à cidade, deveras pitoresca. Direito a café pretensioso para aquecer as mãos, e a um cupcake lindíssimo comprado numa bakery chamada Mad Hatters, onde eu poderia morar. Visita copo-cultural a um pub do século XVII. Mais um passeio para desenvolver o apetite. Descobri a versão inglesa do Convento do Carmo (em menor escala). Depois almoço noutro pub, não tão histórico, mas com proper pub food. Toad in the hole é uma espécie de prato forrado com massa de crepe e depois recheado com salsichas e recoberto com dita massa. Depois rega-se tudo com gravy, um molho tão espesso que parece sopa. As minhas coronárias estão de greve, e dispostas a encenar um walk out se a situação não melhorar rapidamente. Mais uma hora a passear, numa tentativa de fazer a digestão. Ida à rua das Cheese shops. Ainda bem que ainda estava a tentar digerir o almoço. Uma tentação, tantos queijos que não conheço... Continuando o pub crawl, mais um pub histórico, com direito a alcatifa, gente feia a beber à tarde, cerveja a temperatura ambiente e fantasmas de estimação (aparentemente os quartos do andar de cima são assombrados).


 Regresso a MRC mesmo a tempo de apanhar o pôr do sol à saída de Chester. Lindo. Entretenimento durante toda a viagem de volta providenciado por um senhor mancuniano sentado no banco da frente, que foi a falar ao telefone durante todo o trajecto (saudades da quiet coach). Sotaque carregadissímo, e conversa perfeitamente inacreditável. Não sei se o senhor estava alcoolizado, mas a história envolvia ter ido a Wales vender ovelhas, depois de ter tido um sonho em carregava uma perna de carneiro pela cidade. Depois tentou falar com um senhor chamado Jim Jam (I kid you not). "Is Jim Jam there? Is there a Jam Jim? Tell him it's Jeb. Jim Jam, Jim Jam, Jam Jim. Who's you? Tracy? I am Tess' bloke. You know me. I put your mum in the taxi that other time. Jim Jam knows me." Lá consegiu falar com o tal Jim, e passou meia hora a tentar explicar que na realidade queria ir para casa da tal Tracy quando chegasse a MCR, mas ela não lhe atendia o telefone.  Portanto, se ela não atendesse o telefone, iria para casa do Jim Jam. Depois lá conseguiu falar com ela, pediu-lhe desculpas por ter saído assim de repente para tratar das ovelhas (????), e lá convenceu a senhora a abrir-lhe a porta de casa. Se assim escrito parece confuso, basta dizer que para transmitir este tidbit de informação foram necessários quase quarenta minutos. Só não me ri mais porque o Jeb parecia o Vinnie Jones depois de uma noite de binge drinking...

 Da estação de comboio para o supermercado, comprar supplies para o jantar de amanhã e uma garrafa de vinho para o jantar de hoje (calm night in with the hospital chicks). Aqui é proibida a venda de álcool a menores de 21 anos. Pediram-me a identificação. Tiveram que pedir duas vezes. Teria achado uma tentativa foleira de engate se não tivesse sido carded por uma senhora muito mal disposta. Surreal. Eu sei que a minha youthfull disposition muitas vezes disfarça a minha trintice, mas não vejo outra hipótese que não seja grande defeito da acuidade visual da senhora. Ou então isto de não fazer bancos dá saúde e faz rejuvenescer...

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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Happy Leeving

Dia dedicado a alongar tripa. Noite no sofá, Haagen Dazs na mão, filme na televisão. Fim de semana preenchido com bons programas.
Life is good.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Dancing in the mud

 Embora esteja neste momento exactamente no meio da minha estadia em MCR, mesmo sem querer começo a fazer a lista daquilo de que vou sentir falta. The Temple (o meu pub), as sobremesas do Marks&Spencer, The Cupboard. E ir a pé para o trabalho, a ouvir a XFM. Estou viciada. Não erram. Faço as minhas 2 milhas de manhã e à tarde with a skip in my step and a smile in my face. E um esforço gigante para não cantar em voz alta (já recebi uns quantos olhares estranhos quando me distraio). É possível ouvir em streaming, mas acho que não vai ser a mesma coisa...

 Ward rounds. Ainda não me habituei aos processos. São ridículos. As enfermeiras passam tanto tempo a preencher avaliações disto e daquilo (assesment of the nappy area, acessos periféricos, perigo de queda, perigo de úlcera, relacionamento dos pais com enfermeiros, etc, etc, etc) que mal vêem os doentes. Temos que andar atrás de pesos, temperaturas, etc. O que vale é que para isso é que estão lá os SHO. O interno de Cir Ped vê o doente, e o SHO providencia todos os dados. Depois escreve no processo aquilo que o interno diz e trata de todos os pedidos e avaliações. Mesmo assim demoram uma eternidade a ver a enfermaria... Na NICU é diferente, há uma enfermeira por doente nos intensivos e uma para cada 2 nos intermédios. Têm sempre o doente na mão. Hoje passei visita a metade da unidade. Acho que há mais RN cirúrgicos que médicos. Outra coisa que me ultrapassa é a badalhoquice. Num quarto com 10 incubadoras há um caixote do lixo em cada extremidade. Surreal. É preciso passear 10 m com o lixo nas mãos. Mas outra vez, ai de quem não arregaçar as mangas!

 Depois de uma manhã muito activa, o resto do dia foi literalmente passado à conversa. Passei 3 horas in The Cupborad, à espera do bleep do chefe para uma meeting. Chefe embrenhado em coisas de chefe esqueceu-se. E eu fui ficando, na palheta with the surgical folk. Às quatro desisti e num acto de rebeldia fui embora para casa. A chuva que foi pingando durante o dia já tinha parado por essa altura, embora ainda com céu cinzento. Ao passar por um relvado enorme não resisti. Aproveitando o facto de ter botas impermeáveis, fiz algo que não fazia há anos: chafurdar na lama. Andar no meio das poças, com o slohs slosh satisfatório da sola a fundar, a tentar não cair. Fabuloso. Com duas dúzias de estudantes de  engenharia a olharem para mim com um ar estufectado. Um dia vou aprender a comportar-me como uma pessoa adulta, mas esse dia ainda não é hoje.

 Aproveitei a saída prematura do hospital para finalmente conhecer o famoso Afflecks'. É uma espécie de centro comercial alternativo. Verdadeiro universo paralelo. Vintage misturado com SuperMario  misturado com Rockabilly misturado com Lolita. Estive tentada a comprar um vestido 50's com estampado de palmeiras e uma action figure da April, a secretária do filme Ghostbusters...

 Para comemorar o Valentine's Day, date com Bruce Willis. Adrenalina e testosterona em quantidades industriais, e um total aproximado de 14 min de diálogo em todo o filme (dos quais 7 são uma tentativa ridícula de demonstrar a complexidade da relação pai-filho entre o Bruce e o Jr). Não é uma obra de arte, e não é propriamente digno do nome Die Hard, mas é bastante entertaining. Cumpre a sua função. Nightcap no The Temple (sniff sniff) e caminha cedo, porque amanhã é dia de alongar tripa.

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Fat flowing through my veins

  Mais um dia a caminhar na neve. Os locals não compreendem o meu sorriso ao chegar com o nariz gelado e coberta de neve às 08h. Tento explicar que neve para mim é como sol para eles: não faz parte do dia a dia.

 Todo o dia passado com a malta da tripa curta. Manhã nos exames contrastados, tarde na consulta. Algumas coisas começam a fazer sentido. O processo de raciocínio está a ficar mais claro. Score. A equipa é realmente simpática. Na próxima semana vou passar um dia com a play therapist, a avaliar miúdos que se recusam a comer. É mais giro do que parece, a sério. Ah, e na hora do almoço? Outra gastrosquisis. Só porque sim. Já que nascem quando lhes apetece e pela via que lhes apetece. Uma das mais bonitas que já vi. Tudo cá fora, do estômago ao recto, com direito até a bexiga. Mas uma tripinha linda, cor de rosa, brilhante, sem peel nenhum. Acabou por ir ao bloco, mas foi ainda mais uneventful que a de ontem. E para o caso de não terem reparado, não me vou dar mais ao trabalho de alertar para a conversa de bisturi. Se ainda não desistiram por esta altura já merecem uma equivalência à Relvas pelo menos aos primeiros 3 anos de Cir Ped.

 Como não me farto da malta do hospital, fomos jantar outra vez hoje. Angus beef burger com cheddar fries. As minhas coronárias neste momento estão a abanar a bandeira branca. Sooo good. Depois voltinha à chuva para fazer a digestão. Que acabou no pub... Esta gente mata-me. Mas ao menos morro feliz.

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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Fish and chips with the chaps

 Oh happy day. Dia passado no bloco. Até já tenho direito a uma estudante de Medicina só pra mim. Muito simpática, interessada, e traz chocolate chip cookies caseiras. Vou tentar encontrar lugar na mala para ela.

 Agora já acho que é exibicionismo. Onfalocelo, gastrosquisis e hérnia diafragmática nas últimas 24 horas.  Em doentes diferentes (só para clarificar). Seguramente há uma lixeira radioactiva algures por aqui. Não ficaria admirada de ver teenage mutant ninja turtles a passearem pela rua. Onfalocelo operado ontem. Hérnia ainda a oscilar na NICU. E finalmente uma gastrosquisis que vai ao bloco. Até agora todas as que vi foram tratadas com o método do (digam todos em uníssono) Bianchi,  (ALERT ALERT BLOOD AND GUTS) Redução do conteúdo na incubadora, às vezes com direito a purse string suture, outras nem por isso. Estica-se o cordão umbilical por cima do defeito, chapam-se uns steri-strips e um opsite em cima e voilá. Tratado. Tive a oportunidade ver o resultado aos 2 e aos 5 anos. Ficam com uma hérnia umbilical feiosa, mas ao que parece a maioria resolve espontâneamente. E o umbigo até fica bonitinho. O caso de hoje parecia manhoso, com um quantidade respeitável de tripa do lado de fora. Redução feita sob AG, mas também à mínima. Sem alargarem o defeito (e sem fazer stretching da parede) reduziram todo o conteúdo. Talk about meter o Rossio na Rua da Betesga. Duvidei seriamente, mas conseguiram. Depois foi só fechar a aponevrose e fazer um purse string à volta do cordão. Apesar de tudo, barriginha molinha no fim. Gostei. Depois biópsia hepática laparoscópica, encerramento de estoma, circuncisão (sim, também há espaço na agenda para cirurgia de ponta), ooforectomia por torção de quisto numa RN de 20 dias por laparoscopia (stab incisions estão na moda) e finalmente mudança de CVC num dos miúdos da tripa curta. Momento MacGyver. Vale tudo menos arrancar os olhos. Demorou, mas consegiu-se.

 Saída do hospital tarde e a más horas. Brainstorming à porta. Fish and chips pareceram uma boa idéia. Acabei por passar um fim de dia super agradável à conversa, entupindo as artérias com quantidades astronómicas de fritos. Codfish frito com batata firta e puré de ervilhas (só para enganar). Tudo regado com vinagre. Parece horrível, mas não é. É decadente e gorduroso, e muito bom. Deve existir uma regra urbanística qualquer assegurando que todos os apartamentos na zona central de MCR são fabulosos. Todas as casas onde estive até agora são impressionantes. Muita luz, bom aproveitamento do espaço (ok, pequenos), super cool. E baratos, se comparados com Lx.

 Não sei se sou só uma pessoa com uma enorme capacidade de adaptação ou uma apátrida sem raízes. O processo de aculturação está completo. Entornei café esta manhã e gritei "Bloody hell".

 Your moment of Zen:



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Registar rules

 Cada vez que eu acho que me estou a habituar ao frio, porque não me quero dar ao trabalho de tirar as luvas da mochila, passa por mim um inglês de calções e t-shirt...
 Outra reunião de internos. A independência e o grau de organização deles é realmente impressionante. É quase auto-gestão. São eles que definem a escala de banco, quem trabalha com qual assistente, posto (consulta, bloco, enfermaria...), férias, congressos... E agora que chegaram os tais novos SHO (tipo IAC), são eles que definem todas estas coisas para a "ralé". Os assistentes basicamente "atrapalham" a gestão do serviço. Weird. Quando participo nestas discussões sinto-me sempre uma criancinha pequenina na mesa dos adultos... Mudaram a rotação esta semana, portanto a Bum Team tem uma nova constituição. Igualmente porreira. 


 Mais uma NEC. Parece que há uma fábrica de RN cirúrgicos nas traseiras do hospital. Este fim de semana mais uma atrésia intestinal e uma MAR. Inveja... Agora ando a divertir-me com o território da gastro. Aqui são os cirurgiões que fazem as endoscopias e colonoscopias. Dilatações do esófago e tudo. Gastrotomias, botões, pegs, you name it. Já estou expert em mudar botões. Ao menos faço qualquer coisa.

 Consegui sair do hospital a horas decentes. Mesmo a tempo de apanhar o pôr do sol. Que hoje até se via através das nuvens.

 Em casa, momento deprimente. Onde está a minha mommy quando é preciso? Ou o meu chefmate? Ou a J Grande? O jantar acabou por ser uma sandes de ovos mexidos. Shame on me. Compensei com a sobremesa: pratada de brownies. Quer dizer, meia pratada. Yoga a seguir...


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Gong xi fa cai!

 Gotta love not so lazy sundays... Há dias em que o tempo estica. Pequeno interlúdio preguiçoso de manhã, a ver um filme enrolada nos cobertores. Seguida de um momento de coragem, que envolveu sair do quentinho e enfrentar o dia cinzento e chuvoso, com a promessa de um belo pequeno almoço (com café decente!) no fim do arco-íris. Mais umas voltinhas para tratar da vida (afinal há lojas abertas ao domingo), e fim da manhã passado perdida numa Waterstones´. Com a consciência pesada por ultimamente só infringir o copyright e não comprar um livro de papel há uns tempos...

 Guilty lunch no McDonalds. Só me lembrei que era domingo quando fui quase atropelada por uma horda de criancinhas assim que abri a porta.  Não gosto de criancinhas em bandos. São barulhentas e ligeiramente assustadoras. Tenho sempre um ligeiro feeling "Village of the Damned" quando olham para mim  ao mesmo tempo. Como disse um amigo, é como avistar um lobo no bosque: quando é só um, é um momento único, de contacto com o milagre da vida animal; quando são vários... "Oh f$#%!". Presumo que vá deixar de receber convites para festas de aniversário infantis após este desabafo...


 Tarde de trabalho produtiva. Nada como ter um objectivo: sair de casa a tempo do fogo de artifício. Para um povo obcecado com incêncios até são bastante permissivos  com as celebrações. O fogo de artifício foi lançado na praça central de Chinatown,um pequeno espaço vazio com talvez 100m2. O início foi ffraquinho, mas depois rapidamente ganhou momentum. No fim fiquei impressionada. Não sei se foi só a qualidade dos fogos ou se o rush de adrenalina por temer pela minha integridade física contribuiu para a emoção (estavam a cair fagulhas na zona onde estava). Depois de passear um bocadinho pela feira (com direito a diversões foleiras e barraquinhas onde se podiam ganhar peluches com tiros), dura decisão: onde jantar? Food stall ou restaurante? Restaurante (frio e quase chuva). Que tipo de asiático? Todos. Restaurante chinês/coreano/japonês/filipino/malaio/tailandês. Mesmo me sentindo um bocadinho narrowminded acabei por não resistir ao pad thai. Que estava fabuloso. E muito bem acompanhado por uma Singha (cerveja como deve ser, fresca e com bolhinhas). Vou ter saudades de toda esta opção culinária.

 All in all, acho que já me sinto em casa o suficiente para não ter que procurar incessantemente programas novos para o fim de semana. Nice feeling.

Casual friday

 Sexta feira fui jantar com a malta do hospital. Leaving do. Malta a mudar de hospital. Restaurante tailandês. Comida deliciosa. Saudades das férias. Cocktails decorados, bem disfarçados com suminho. E vinho. Muito vinho. Em garrafas com tampa de enroscar, e não rolhas. Estranho, but that's the way they do things around here. Até agora estava admirada com o nível de educação e appropriateness dos cirurgiões daqui. Ninguém diz asneiras, e o nível de parvoíce é mantido no mínimo. A única discussão que observei até agora discorreu num tom mais apropriado à igreja, e acabou com os dois intervenientes a pedirem desculpas pelo seu comportamento impróprio (eu só me apercebi que tinha havido uma discussão na altura das desculpas). Mas o véu da civilização se despe rapidamente com uns quantos copos... Almas mais sensíveis teriam ficado chocadas. Eu só me ri. E corei um bocadinho.

 Sábado chuvoso e frio. Sem coragem para explorar. Dia passado no sofá a ler a e a dormitar. Com uma endlesss supply de chá quentinho e brownies. Entrei oficialmente para a 3ª idade.

 Programa de hoje sujeito a muita discussão interna. Liverpool ou Ano Novo Chinês? Chuva e mau tempo generalizado levaram a apostar no Ano Novo. Manchester têm a maior comunidade chinesa do Reino Unido. O fogo de artifício é famoso. Vamos ver. É difícil impressionar-me nesse campo. Eu já vivi em Valencia. Sempre é uma boa desculpa para jantar dim sum...

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Bleeping bleep

 Time does fly when you are having fun. Já se nota diferença na hora do nascer do Sol. Hoje cheguei ao hospital em plena luz do dia. E sem precisar de calçar as luvas. Não sei se o tempo está melhor ou se sou eu que me estou a tornar insensível.

 No hospital resolvi curar a ressaca de banco acompanhando o interno "on call". O bleep do inferno é tão chato como o telemóvel do inferno. E o grau de "urgência" das chamadas também é bastante semelhante. A grande diferença é o tamanho do hospital. A distância palmilhada a responder às chamadas é bastante superior por aqui. A luta pelo bloco é ainda maior. Além da ortopedia e otorrino, ainda têm que andar à pancada com a plástica. Sim, porque aqui são finos e feridas da face ou complexas e queimaduras são da plástica. Aliás, qualquer ferida com perda de substância, quase escoriação, é da plástica. Por um lado, maravilha, muito menos trabalho. Por outro, menos experiência. O que se nota nalgumas coisas. Dar pontos em tudo o que mexe (e grita)  acaba por fazer diferença na destreza manual e manuseamento dos tecidos. Fica-se com a sensação que passam para o filet mignon sem passar pelas papas cerelac...

No que diz respeito a patologia, hoje foi fraquinho. Empiema (dreno + fibrinolítico). Missed appendicitis (drenagem de abcesso pélvico por via rectal - again). E nada de RNs. Também não pode ser natal neonatal todos os dias...

 A fixação com os códigos de cores continua a impressionar. Cada dia descubro algo novo color coded. O armário dos impressos (folhas de 7 cores diferentes em cada processo). As etiquetas dos fármacos. E hoje o armazém do bloco. De deixar qualquer obsessivo-complusivo de lágrimas nos olhos de emoção. Cores diferentes para material de punção, drenos, pensos... Parecia um arco-íris. Ao menos em arrumação são fabulosos (organização já não é bem assim...).

 Uma sensação agradável: perceber o código. Compreender as abreviaturas e o calão da internagem. Algumas das minhas expressões favoritas:
- opening the bowels (fazer cocó)
- well in him/herself (bom estado geral)
- abdo pain (dor abdominal)
- PR (per rectum, mas eles são demasiado educados para dizer rectum em voz alta)
- scan (ecografia)
- chase the bloods (ver os resultados dos exames)
- WHOing, as in "I am WHOing theatre 21" (fazer o checklist pré-operatório)
- medics (pediatras)

Bem, tenho que parar de procrastinar e ler artigos.

Your moment of Zen:

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

I see dead people. When I am walking around like regular people.

 Descobri que tenho o poder de controlar o tempo. Consigo fazer chover ou fazer sol com o simples gesto de transportar um guarda-chuva na mochila.

 Manhã passada a fazer a ward round. Gosto como os pais são tratados aqui. Não gosto necessariamente de como os pais tratam os médicos e enfermeiras. Demasiado exigentes, e não necessariamente em relação ao que é realmente importante. Como se as criancinhas ficassem doentes por culpa dos profissionais de saúde. E são tratados como realeza. Ao invés da cadeira reclinável manhosa, que pode ou não reclinar, que nós oferecemos, têm direito a uma cama (ok, daquelas que se guardam dentro de um armário, mas ainda assim uma cama). A maioria dos quartos tem casa de banho privativa. Há quartos na UCIN para os pais. E uma sala de estar. E uma copa. A casa Ronald McDonald fica do outro lado da rua do hospital, e é enorme. Há um horário "protegido", das 12 às 13, em que não se pode entrar nos quartos, para os pais poderem alimentar as criancinhas em paz. Ainda não percebi muito bem como é que funciona a arrumação dos quartos. Não sei se é da responsabilidade dos pais. O que sei é que não pecam por excesso de limpeza. Aliás, não percebo como é que são tão anal retentive com algumas regras de higiene (ai do médico que andar no hospital de relógio no pulso ou sem ter as mangas arregaçadas, é imediatamente fulminado por um raio), mas depois não têm problema em deixar miúdos com CVC's brincarem no chão badalhoco, num quarto com o caixote de lixo a transbordar e pratos sujos por todo o lado...

À tarde, bloco. Another day, another bum. Já tenho saudades do Peña (conversa de bisturi). Às 17h resolvi que "já não estou na fase" de ver encerramentos de estomas e saí mais cedo. A luz do sol faz maravilhas. Há semanas que faço o mesmo trajecto.  Normalmente no lusco fusco. E só hoje reparei que há um cemitério vitoriano do outro lado da rua do hospital. Numa localização estranha, à beira da estrada. Muito Edgar Allan Poe. Deveras gótico. Se não fossem os carros a passar ao lado. Pôr do sol a caminho de casa. Cada vez gosto mais desta cidade. Não tem a luz de Lisboa, mas tem uma atmosfera muito própria. Vou ter saudades...


Your moment of Zen:
Literalmente, Rest In  Peace



terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

15 minutes of fame

  Dia começou com neve e vento. E com o guarda chuva a partir-se ao meio. Seguido de birra e autocarro até ao hospital. Reunião MDT da tripa curta, seguida de consulta altamente específica, na qual apareceram menos de 50% dos doentes. Almoço. Reunião com o grupo de investigação do serviço. Constatação de que sou iliterada em bioestatística e journal writing. Tentativa de melhorar o humor e o ego com um millionaire shortcake do bar (prova superada). Ida até à NICU ver o onfalocelo que nasceu esta madrugada. Quem é que lá estava? A BBC. Quem é que vai apareçer na televisão (dependendo da quantidade de filme que acaba o chão da sala de montagens)? Pois é. Vamos lá ver se fico bem no pequeno ecrã. Ao menos os fatos de bloco daqui tem tamanhos quase humanos, e parecem só um saco de batatas e não uma tenda... Cirurgia correu bem. Resultado final bonito.

Em casa, mais um belíssimo jantar, cortesia do flatmate. No entanto, o fine dining não consegue matar por completo as saudades da comida da Moms... Aliás, hoje dia saudoso no geral. Vontade de estar em dois lugares ao mesmo tempo. E uma certa angústia ao perceber que já passou um mês. E ainda só passou um mês...

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Murphy, you bastard!

 Recapitulando rapidamente os últimos dias...

 Sábado à noite continuei a minha missão de conquistar MCR, m pub de cada vez. Se continuar com este ritmo ainda vou conseguir repetir alguns cromos... No primeiro pub onde estivemos fomos literalmente corridos por um grupo de solteironas inglesas, grandes, assustadoras e aparentemente famintas. Em vários sentidos... Fomos embora porque os elementos masculinos do grupo começaram a temer pela sua integridade física. Para dar uma noção do enquadramento, uma delas realmente parecia o Sloth (vide Goonies). Deve haver uma lei que proíbe as mulheres de usarem calças no Sábado à noite. E sapatos fechados. E collants. E casacos. Não percebo como não sofrem de hipotermia. Ainda não foi desta que acabei a noite a comer curry. Mas se o andamento não abrandar ainda acabo no Curry (péssimo trocadilho, peço desculpa).

 Domingo foi um lazy day. Cheguei à conclusão que há quase 2 meses que não tenho um dia de vegetanço.  Achei que merecia. Vi a última season de 30 Rock e 4 filmes. Só faltaram as pipocas...

 Hoje mais um dia de trabalho. Descobriram mais uma função para mim: tradutora. Já é o 3o doente tuga-descendente que eu vejo por aqui...
 (Conversa de cirurgião) No bloco, mais uma atrésia do esófago. Long gap associado a T21. Onde é que eu já vi este filme?  Fez-se só a gastrostomia. Normalmente deixam os miúdos crescerem até aos 3, 4 meses, e depois fazem anastomose primária ou transposição gástrica no mesmo tempo se os topos estiverem muito afastados. Boa idéia, quando se pode mandar os miúdos para casa com uma Reploge e são vistos por uma enfermeira 2x/dia no domicílio... E as apendicites podres são todas tratadas com antibiótico e/ ou drenagem percutânea. Vi uma drenagem de abcesso pélvico por via rectal. Já não me lembrava do cheiro. E eles realmente não estão acostumados. Duas das internas e uma das enfermeiras tiveram que sair da sala... (Fim da conversa nojentinha)

 Regresso a casa, momento Murphy-não-perdoa. Há um mês que ando com o guarda chuva na mochila. Nada de chuva. No dia em que me esqueço... E claro, não começou a chover logo que saí do hospital, quando apanhar o bus ainda seria uma opção. São Pedro esperou que eu chegasse exactamente a meio do caminho, numa zona totalmente desabrigada e quase a igual distância da paragem e de casa. Ok, já percebi a mensagem. Já não duvido da reputação de MCR. E depois ainda tenho que gramar com fotos do pôr do sol lisboeta. Humpf. Invejinha...

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Weekend LeeVing

 Tenho saudades do LeeMobile (II - A Vingança) como se tem saudades de um amigo. Mas não tenho saudades de andar de carro. Nem do trânsito. O meu passeio matinal é uma quase meditação. Juntando uma rádio que lê pensamentos e só passa músicas que eu gosto, todos os dias chego ao hospital com um sorriso nos lábios. Reencontrei o meu mojo matinal. E o caminho de volta, feito nos mesmos moldes, serve para unwind. Chego em casa com uma sensação de quase fim de semana. Cheia de energia. Não admira que o dia aqui me pareça ter mais horas.

 Ontem foi um average day at the hospital. Um Wilms, orquidopexia (feita da maneira habitual, acho que a orquidopexia transescrotal do Mr. B é a única técnica dele que não encontrou grande aceitação no serviço), hérnia numa menina e encerramento de estomas num pequenino. Momento de gossip cirúrgica:
- não referenciam os topos com sedas
- bipolar para tudo
- anastomose em 1 plano, referências sero-serosas nas extremidades e começam com pontos a meio, depois avançando para cada lado (parece-me pouco prático)
- RN com estomas vão para casa ganhar peso. Surreal. Vantagens ter o apoio domiciliário e comunitário que eles têm
- começam a comer no mesmo dia ou dia seguinte

 O relacionamento com a malta do hospital é cada vez melhor. São realmente impecáveis. E realmente dão-se bem. Mas não se dão com mais ninguém. Não conhecem os pediatras. Não vão com eles ao café, não se juntam ao almoço. Aliás, acho que esse é provavelmente o único defeito do The Cupboard. O porto de abrigo acaba por ser também um bunker. Mesmo assim, nota mental: chatiar o chefe...


 Para comemorar o fim de mais uma semana trabalhosa, jantar no pub. Às 18:30. Um pub a sério. Com gente feia e comida gordurosa. E boa cerveja. Já não sinto saudades da Super. Tantas opções, tão pouco tempo... One does what one can, but still... Mais uma noite de pub crawl. Depois do The Knott, The Temple. Que tem a particularidade de ter sido uma casa da banho pública na época vitoriana. Duas pints depois, tentar chegar a casa. Prova não superada. A Canal Street não deixou. Gotta love gay bars. A música estava demasiado boa para só ir para casa. Como não responder ao chamamento do "Into the groove"? Só faltou o tradicional curry antes de dormir, que foi substituído por Haagen Dazs. E isto a que horas? Pois é, toda esta emoção, uma tour de force da noite mancuniana, e estava na caminha antes da uma da manhã. O tempo aqui realmente parece esticar de outra forma.

 Há que adorar estas saídas à inglesa. Às nove de pé, pronta para passear. O Universo concordou comigo. Dia lindo, com sol, sem vento. Frio, mas tolerável. Começo a duvidar da reputação manhosa do tempo de MCR. Acho que são apenas intrigas da oposição. Passeio super agradável, seguindo os canais, passando pelo Northern Quarter e acabando quase nos subúrbios, para ir a um supermercado decente. Bem, pelo menos maior. Selecção de produtos frescos um pouco mais variada, mas o que tem é na realidade mais opções de comida pré-feita. E bacon. Um corredor enorme só com bacon. Parece ser a versão inglesa do bacalhau. Há mil e uma maneiras de preparar. No entanto, andar quase 3 km para chegar ao supermercado valeu a pena: leite sem lactose. E maior millionaire de sempre! (Sim, eu tenho um problema. Admitir o problema é o primeiro passo para a cura). Volta a casa aproveitando o sol para mais um pequeno passeio. Esta cidade realmente é fabulosa.

 Em casa, outro momento vintage Lee. Atravessar a cidade com os copos? Na boa. Percorrer passagens estreitas com lodo e atravessar canais em pontes improvisadas? Sem stress. Colocar as compras no armário? Perigoso. Principalmente quando se está de meias. Raio de idéia de deixar os sapatos à porta. Queda à séria no chão da cozinha. Cinematográfica. Swolen lip, bruised bottom, sore back. Ainda bem que hoje comprei ibuprofeno no supermercado. Agora sentada no sofá, com gelo nas costas e chá quente na mão, a aproveitar o que resta do sol e a tentar recuperar. Tenho até às 6. Depois estão à minha espera no pub.

Your moment of turistic zen: