Tenho saudades do LeeMobile (II - A Vingança) como se tem saudades de um amigo. Mas não tenho saudades de andar de carro. Nem do trânsito. O meu passeio matinal é uma quase meditação. Juntando uma rádio que lê pensamentos e só passa músicas que eu gosto, todos os dias chego ao hospital com um sorriso nos lábios. Reencontrei o meu mojo matinal. E o caminho de volta, feito nos mesmos moldes, serve para unwind. Chego em casa com uma sensação de quase fim de semana. Cheia de energia. Não admira que o dia aqui me pareça ter mais horas.
Ontem foi um average day at the hospital. Um Wilms, orquidopexia (feita da maneira habitual, acho que a orquidopexia transescrotal do Mr. B é a única técnica dele que não encontrou grande aceitação no serviço), hérnia numa menina e encerramento de estomas num pequenino. Momento de gossip cirúrgica:
- não referenciam os topos com sedas
- bipolar para tudo
- anastomose em 1 plano, referências sero-serosas nas extremidades e começam com pontos a meio, depois avançando para cada lado (parece-me pouco prático)
- RN com estomas vão para casa ganhar peso. Surreal. Vantagens ter o apoio domiciliário e comunitário que eles têm
- começam a comer no mesmo dia ou dia seguinte
O relacionamento com a malta do hospital é cada vez melhor. São realmente impecáveis. E realmente dão-se bem. Mas não se dão com mais ninguém. Não conhecem os pediatras. Não vão com eles ao café, não se juntam ao almoço. Aliás, acho que esse é provavelmente o único defeito do The Cupboard. O porto de abrigo acaba por ser também um bunker. Mesmo assim, nota mental: chatiar o chefe...


Para comemorar o fim de mais uma semana trabalhosa, jantar no pub. Às 18:30. Um pub a sério. Com gente feia e comida gordurosa. E boa cerveja. Já não sinto saudades da Super. Tantas opções, tão pouco tempo... One does what one can, but still... Mais uma noite de pub crawl. Depois do The Knott, The Temple. Que tem a particularidade de ter sido uma casa da banho pública na época vitoriana. Duas pints depois, tentar chegar a casa. Prova não superada. A Canal Street não deixou. Gotta love gay bars. A música estava demasiado boa para só ir para casa. Como não responder ao chamamento do "Into the groove"? Só faltou o tradicional curry antes de dormir, que foi substituído por Haagen Dazs. E isto a que horas? Pois é, toda esta emoção, uma tour de force da noite mancuniana, e estava na caminha antes da uma da manhã. O tempo aqui realmente parece esticar de outra forma.

Há que adorar estas saídas à inglesa. Às nove de pé, pronta para passear. O Universo concordou comigo. Dia lindo, com sol, sem vento. Frio, mas tolerável. Começo a duvidar da reputação manhosa do tempo de MCR. Acho que são apenas intrigas da oposição. Passeio super agradável, seguindo os canais, passando pelo Northern Quarter e acabando quase nos subúrbios, para ir a um supermercado decente. Bem, pelo menos maior. Selecção de produtos frescos um pouco mais variada, mas o que tem é na realidade mais opções de comida pré-feita. E bacon. Um corredor enorme só com bacon. Parece ser a versão inglesa do bacalhau. Há mil e uma maneiras de preparar. No entanto, andar quase 3 km para chegar ao supermercado valeu a pena: leite sem lactose. E maior millionaire de sempre! (Sim, eu tenho um problema. Admitir o problema é o primeiro passo para a cura). Volta a casa aproveitando o sol para mais um pequeno passeio. Esta cidade realmente é fabulosa.
Em casa, outro momento vintage Lee. Atravessar a cidade com os copos? Na boa. Percorrer passagens estreitas com lodo e atravessar canais em pontes improvisadas? Sem stress. Colocar as compras no armário? Perigoso. Principalmente quando se está de meias. Raio de idéia de deixar os sapatos à porta. Queda à séria no chão da cozinha. Cinematográfica. Swolen lip, bruised bottom, sore back. Ainda bem que hoje comprei ibuprofeno no supermercado. Agora sentada no sofá, com gelo nas costas e chá quente na mão, a aproveitar o que resta do sol e a tentar recuperar. Tenho até às 6. Depois estão à minha espera no pub.
Your moment of turistic zen: