sábado, 30 de março de 2013

Cleaning up my locker

 Bleep devolvido. Cacifo esvaziado. Malas arrumadas. Despedidas feitas. Coração entre o partido e o remendado.

 Para além de 30kg de bagagem, levo:
- a certeza de que trabalho num hospital que funciona muito melhor do que a maioria das pessoas acredita
- uma imagem diferente dos ingleses
- vontade de trabalhar mais em equipa
- um novo apreço pelo ensino
- um arsenal cirurgico diferente
- uns quantos bons amigos
- resistência acrescida ao frio
- pulmões mais limpos
- nova banda sonora
- léxico inglês badalhoco expandido
- paixão desmedida por millionaire shortbread
- conhecimento sobre as regras do rugby
- vontade de visitar a Escócia e a Irlanda com locals
- apreço acrescido pela cerveja portuguesa
- 3 kgs a mais
- a certeza de que me adapto a tudo

 Foi bom enquanto durou. Obrigado pela companhia.

Your moment of Zen:

quarta-feira, 27 de março de 2013

It's the final countdown

 Ontem Murphy foi um cavalheiro. A cirurgia foi para a frente e correu muito bem. Hirschsprung com atingimento do íleon. All in all, 50 cm de jejuno. Not very short, but functional short anyway. SILT + STEP + Duhamel. Currículo suficiente para uma semana. Desta vez achei o SILT mais bonito. O STEP demorou 10 minutos. Mas mesmo assim foram 8 horas no bloco. A inalar sevofluorano... Nos intervalos da cirurgia (só a parte das suturas são mais ou menos 2 horas no SILT), fui ajudar a reduzir a gastrosquisis com silo na NICU. Deixaram-me empurrar a tripa. É difícil explicar, mas é uma sensação deveras gratificante. Comparável a quebrar as fibras musculares nas EHP.. Might sound weird, but well, I am weird. Por falar em weird, a piada da semana foi o mail sobre o jantar de despedida, que um auto-correct denominou de "Aliens leaving do". Não bastava o Vandasilva...

 À noite, momento de despedida parte 2. Jantar no restaurante do Jamie Oliver com o meu chefmate. Antes que comecem os reparos acerca dos salários astronómicos pagos a internos que estão a passear em terras de Sua Majestasde, devo dezier que o jantar ficou por 25 £ por cabeça. Comida deliciosa, serviço impecável. Depois ida ritual ao The Temple. Noite muito agradável, mas deveras agridoce. Que acabou comigo quase a ir para casa ao colo, devido a uma combinação infeliz de jantar opíparo + cerveja + inalação prolongada de gases anestésicos. Acho que fiz metade do caminho para casa de olhos fechados...

 Hoje dia de tretas no bloco. Acabei por andar a passear, a despedir-me das pessoas. Conversa agradável com a play therapist. Aproveitei estes últimos dias, após 3 meses a ganhar a confiança das pessoas, para fazer as perguntas idiotas todas que me ocorreram. Toda uma nova perspectiva em relação ao facto de condicionarmos os miúdos com NP a uma vida asséptica, e repercussões em vários níveis. Again, food for thought. Depois, despedida das Janes, as enfermeiras da Home PN. Exemplo de competência, boa gestão e cordialidade. Farol de luz no meio de sisters, nurses and matrons na maioria pouco simpáticas. Antes do almoço, run of the mill clinic e long pause for coffee ^(as despedidas são uma óptima desculpa para tudo). À tarde, re-do Hirschsprung (com abordagem à Peña!!!!!!). E encerramento da gastrosquisis que andei a empurrar na NICU. Bela prendinha de despedida. Deixaram-me fechar metade da fascia. I will sorely miss these people. Não fecham a pele. Apesar de já ser um RN com 3 dias de vida, o cordão foi mantido hidratado, enrolado com gaze gorda e opsite, e usado como "tapa buracos". Puxa-se o cordão para o lado, steri strip em cima, em baixo e do lado, e voilá. Os resultados que tenho visto na consulta até são engraçados.
 Mais um jantar de depedida, desta vez com a malta de casa. Fomos a um restaurante very hipster  no Northern Quarter. Devo admitir que a comida era fabulosa. Depois, pub. Tenho mesmo que agradecer ao Universo. Só encontrei gente simpática e divertida por cá. Conversa hilariante, com direito a devaneios alcóolicos sobre que tornaria um straight man gay (Bruce Willis e Denzel Washington, in case you were wandering), e quem tornaria um gay man straight (Eva Longoria). Direito a prenda de despedida genial...

 Amanhã é o último dia no hospital. E à noite leaving do. Vai doer.

Your moment of Zen:


segunda-feira, 25 de março de 2013

Pretencious movie going

 O frio continua. Mas está melhor. Mesmo assim, bus de manhã para o trabalho, para não congelar as mãozinhas.

 Última 2ª do mês means M&M. Outra gastrosquisis que não está a correr muito bem. Eu sei que eles tem um volume maior, mas continuo admirada com a quantidade que acaba com silo. E com as complicações. Por falar nisso, hoje vi o meu 1º silo pré-formado. Giro. Engenhoca engraçada. Depois, mais um bocadinho de teaching, para preencher a manhã. À tarde, Short Gut Clinic. Já me despedi da nutricionista e da play therapist. Sniff sniff...

 Para provar que a minha vida não é só cerveja e hospital, hoje fui ao cinema ver The Cabinet of Dr Caligari com acompanhamento musical ao vivo. Música concebida especialmente para a ocasião. One man show de piano, acordeão e voz. Um falsetto deliciosamente tétrico. Combinação perfeita, a música não roubava o protagonismo ao filme. Complementar. Very cool.

 Agora cruzar os dedos e esperar que o alongamento vá para a frente amanhã. Estou a ponderar seriamente fazer uma boa acção e ficar em casa, só para me assegurar que o miúdo é operado...

 Your moment of video Zen:


domingo, 24 de março de 2013

Freazing, with a side dish of freaking cold

 Claro que o doente de 6ª feira foi cancelado. Murphy não perdoa. Teria feito uma boa acção ficando em Birmingham. Tenho a certeza que assim o doente não teria sido adiado. Mas a razia foi geral. Mass casulaties no bloco. Os programas operatórios das 3 salas de cirurgia geral foram cancelados por falta de camas de intensivos e intermédios (todos os doentes eram complicados). Resultado: 5 cirurgiões na palheta  in The Cupboard  toda a manhã. A determinada altura decidimos que a situação já se estava a tornar ridícula, e fomos só almoçar fora. E às 3 da tarde ja estava em casa. Again, totally and utterly unproductive day, but very entertaining.


 Programa de 6ª à noite: rugby match. À inglesa, com neve e vento. Quando fui convidada pareceu-me uma idéia fabulosa. A caminho do jogo, quase a ser levada pelo vento glaciar, comecei a repensar as minhas opções. Mas já era tarde demais para desistir. E valeu a pena. O jogo foi no estádio de Salford, cidadezinha que fica do outro lado do canal. Sale Sharks (locals) vs Bath. Os Sharks estão neste momento na 11º posição da I Liga (ou equivalente, não tenho a certeza do nome). Subiram do 12º lugar depois de uma equipa ter sido punida com a perda de 5 pontos por falsificar informações sobre um jogador. Mas apesar de tudo tem um cult following significativo. O estádio estava cheio. Não há tanto a tradição das camisolas do clube e cachecóis. Aliás, toda a gente está vestida para o inverno nuclear. E fazem bem. Porque estava frio à séria. Uma coisa que descobri rapidamente é que os jogos de rugby são muito mais civilizados que os de futebol. Para começar, vende-se álcool no estádio (o que permitiu que eu bebesse a primeira cerveja devidamente refrigerada desde que aqui estou...). Depois, apesar de haver divisão entre os home e os away supporters, não há problema em ficarem ao lado uns dos outros. Fui ver o jogo com 3 amigos, 1 a favor dos Sharks, os outros dois a torcer por Bath. Como o local tinha season tickets, fomos para o home supporters quarter. E não houve problema nenhum em estarem a gritar por Bath durante o jogo. Além dissso, apesar de toda a gente gritar bastante, não ouvi reparos à mãe do árbitro ou dos jogadores. Claramente, é um jogo de cavalheiros. Apesar de só ter começado a sentir os dedos dos pés quando cheguei a casa, adorei a experiência. Depois do jogo, e de algumas cervejas, veio a fome. Nada como very greasy chinese à meia noite. Vou sentir falta destes open all night grease houses...

 Sábado gelado. Dois graus, com o vento feels like minus 8. Depois de uma manhã preguiçosa no calor dos lençois, saí para enfrentar o frio até ao The Lowry Hotel, for my very posh Afternoon Tea. Era um dos cheks que faltava na minha to do list. Primeiro, estes senhores apostam no serviço. Fui tratada como uma princesa saudita, apesar de estar de jeans e mochila (podem obrigar-me a vestir-me como um adulto responsável durante a semana, mas não durante o fim de semana). Chá delicioso. Uma pratada de pequenas sanduiches variadas. E uma verdadeira montanha de scones e docinhos variados. Serviu para almoço, lanche e jantar. Frio desgraçado + barriguinha cheia = correr para o quentinho da casa e fazer uma sesta. Acabei por acordar às 21:30 com um convite para sair. Ainda tentei dizer que não, mas jogaram a cartada de "quase úlimo fim de semana". Depois de algum conflito interno, lá decidi ir. Com a condição de poder sair de jeans. Valeu a pena. Começamos a noite no bar do The Lowry (à tarde tinha parecido tão chique e cool que resolvemos experimentar). Outra vez, tratamento de realeza. Até os salgadinhos eram de qualidade superior. Em seguida, bar da moda. Cocktails interessantes. Muita carne exposta. Não pecebo como é que elas aguentam. Nem a alcoolémia explica. Nem no verão lisboeta está assim tanto calor. Por falar em verão, metade da pele exposta era cor de laranja. No outro dia ouvi uma descrição interessante do mulheiro mancuniano em modo noitada: terracota army in stilettos. Muito apropriado. Em seguida, um pezinho de dança. Sítio tão mau que até foi divertido. Deveras posh, mas com selecção musical hip-hop/poppy. E um verdadeiro mercado de carne. Mas ao menor as tentativas de engate foram educadas, e facilmente repelidas. Ainda deu para aguentar até às 2 e meia. Nada mau para um noite à inglesa.


 Hoje, outra vez um frio de rachar. Mas consegui encontrar forças para sair do quentinho e ir a um tour do Town Hall. O edifício é muito bonito, imponente. Arquitectura neo-gótica no seu melhor. Tem a particularidade de ser um edifício triangular, com outro edifício no meio, rodeado por uma zona de circulação de veículos. Factóide interessante: nos anos 80 resolveram limpar o edíficio, que estava basicamente preto por causa da poluição do ar. Mas para poupar dinheiro, não limparam o pátio interior. Resultado, aquele aspecto negro esfumaçado nas paredes manteve-se. E por uma vez uma tentativa de não gastar dinheiro resultou em ganho de dinheiro: o tal pátio está de tal forma bem conservado na sua sujidade que é o melhor exemplo existente de uma rua vitoriana, e já foi usado como set em imensos filmes, incluindo os últimos Sherlock Holmes. Aliás, o Town Hall tem sido usado como set tanto pela sua "rua vitoriana", como pelo semelhança dos corredores com o interior das Houses of Parliament (foi aqui que filmaram The Iron Lady). Infelizmente, não tive direito a nenhum celebrity sighting...

 Depois do tour, achei que já tinha cumprido com a minha cota de passeio por hoje. Mesmo com várias camadas de roupa, casacão, luvas, gorro e earmuffs, não consigo estar na rua. Não sei se este é o processo de aclimatação ao contrário, a preparar-me para o retorno à Tugalândia... De qualquer forma, acabou por ser um very lazy sunday, com direito a um bocadinho de estudo intercalado com filmes parvos de domingo. E chá quente. Muito chá quente.

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quinta-feira, 21 de março de 2013

Quiz show


 Mais uma vez, a aproveitar a viagem de comboio para por a conversa em dia. Desta vez, a sair de Birminham, a caminho de MCR. National training day. Só consegui assistir ao primeiro dia, e nem sequer posso ficar para o jantar. Ao que parece costuma ser delirante - we work hard,we party harder. Se o último jantar a que fui com a malta do serviço servir de exemplo, até tenho medo do que se vai passar esta noite. Murphy para variar não perduou, e o alongamento intestinal de 4a feira foi bumped para 6a, estragando os meus planos de vir aos 2 dias de training. Bummer. Se for adiado outra vez amanhã vou começar a distribuir caneladas.
 Portanto, National Training Day. Ocorre duas vezes por ano, e funciona como uma revisão para os internos. Não há um tema definido, só tem de ser borderline pediátrico. Bom para aprender umas coisas, rever malta e network. E o jantar costuma valer a pena.
 O plano era perfeito: cirurgia na 4a e borga académica 5a e 6a. Três dos meus buddies do serviço também vinham. First glitch: cirurgia cancelada e adiada para 6a. Second glitch: menos um elemento, sem condições depois de um banco pavoroso. Third glitch: perder o comboio até ao meeting point por causa de uma empregada de balcão que levou 15 minutos a calcular o troco do café. Meia hora mais tarde, lá chegamos a East Didsbury, para encontrar a boleia. Road trip! Com direito até a carrinha pão de forma. O quarto elemento, não mancuniano, era o representante nacional dos internos. Na hora e meia que durou a viagem conseguimos ir desde os problema actuais da formação em Cir Ped e as parcas perspectivas de futuro até pior bebedeira em congressos (comparada com esta malta eu sou uma menina). Variado, portanto. Apesar do trânsito para entrar na cidade conseguimos chegar a horas. O pouco que vi de Birmingham não impressionou. Como dizia um dos consultants ontem, eu devia vir a esta reunião nem que seja para ver a cidade e riscar Birmingham como possível opção no futuro...
 O programa começou com uma introdução por parte do mediador, um dos cirurgiões locais que já tinha conhecido em Vienna. É um dos organizadores dos cursos do Royal College of Surgeons, viaja para todo o lado à custa das anastomoses em tripa de porco, e tem das melhores histórias de sempre sobre medical mishaps. A primeiraconversa foi sobre Outcomes in Neonatal Medicine. Muito interessante, e deu-me
algumas das respostas que eu sempre quis saber mas nunca tive paciência de procurar. Tipo sobrevida e consequências a longo termo da prematuridade extrema, e se as coisas tinham melhorado nos últimos tempos. Bottom line, abaixo das 25 semanas é tudo uma caca. Ponderar is it really worth it. Depois falou sobre alimentação precoce com leite materno mesmo nas miniaturas. Pelos vistos aqui se não estiverem
ventilados estão a comer. E com full enteral feeds antes dos 14 dias de vida, se possível. Com bons resultados no que diz respeito a NEC e sépsis. Achei fabuloso. Neonatologistas que querem dar de comer aos putos. A lot of food for thought...
 Em seguida, um cirurgião hepato-biliar com a p#%^ da mania. Mas deveras entertaining. E para além dele e os dois internos do serviço, era a única pessoa que tinha visto mais do que um Kasai. E um quisto do colédoco (well, partes, para ser sincera). Toma lá e embrulha! Falou sobre as vantagens de concentrar a patologia em poucos centros com muitos casos. Dahhhhh. E que devemos sempre sempre sempre confirmar que por nós próprios se as fezes são acólicas. Porque não seria Cir Ped se não metesse cocó no meio...
 Pausa para café intragável e para conhecer os internos de Dublin, graças à amiga irlandesa. O futuro dos internos por lá também não é brilhante. Pior do que a Tugalandia, diria eu. Well, for once the grass is not greener. Tema seguinte: "When things go wrong". Provavelemte o tema mais interssante do dia. Comunicação, preparação, discussão dos problemas com a equipa, giving praise and criticism. Quase um momento de team building. Definitivamente algo que deveria ser importado para certos hospitais que eu cá sei... Para preparar o apetite para o almoço, malformações ano-rectais. Pretty much, Rintala vs Peña, e quem disse o quê nos últimos 30 Journal of Pediatric Surgery. Take home message: do whatever you like, as long you can justify it. E como estamos em terra de Sua Majestade, e todos os outros prelectores
conseguiram manter-se impecavelmente dentro do tempo determinado, a conversa acabou antes de chegar à parte mais controversa: home Hegars (sim, ainda tenho a decência de escrever pelo menos sobre os temas cirúrgicos mais sensíveis em código).  
 Almoço horrível, como estava à espera. Umas sandochas com recheios estranhos sem piada nenhuma. Deu acima de tudo para people watch. A faixa etária varia bastante. Nacionalidades e etnias também. Girls and boys em igual proporção. Muitas loiras.
 Regroup à tarde. Não agradou tanto como a manhã. Primeira sessão: basic sciences. Uma vergonha total. Admito a minha ignorância a nível bioestatístico. Colmatar essa falha é uma das minhas prioridades quando voltar... Seguida de uma quite boring presentation on a very interesting subject: Pediatric Surgical Trainees and Research. Basicamente, tentativa de organizar estudos multicêntricos organizados pelos internos. It looked good om paper. E finalmente, última sessão, e a mais divertida. The definitive curriculum quiz. Oitenta perguntas com várias alíneas baseadas numa foto ou exame. Cada um recebeu uma folha para anotar as respostas, enquanto as perguntas eram projectadas. Qual é a patologia? Diga o nome do exame. Liste dois procedimentos cirúrgicos utilizados nesta situação. Refira 3 factores que influenciam o prognóstico. E algumas perguntas que parecem básicas, mas que entalaram quase toda a gente. Tipo qual é a constituição da membrana do onfalocelo. De uma forma divertida, fizeram uma revisão da matéria quase toda. Num total de 170 pontos, consegui 102. Errei todas as perguntas sobre estatística, e um montão de urológicas e oncológicas. E confesso que não percebi bem a pergunta numas quantas. Mas até me safei no resto. O tipo que levou o prémio acertou 155. E faz exame de saída no verão. Portanto sinto que não envergonhei o meu serviço...
 Agora no comboio. Deixaram-me na estação a caminho do jantar. Tenho muita pena de não ficar para amanhã. Os temas também são interessantes. Mais pena ainda de não ir ao jantar. Oh well, uma vez que vim para cá por causa da tripa curta parecia mal faltar à cirurgia para ir para os copos...

 Your moment of Zen: 


terça-feira, 19 de março de 2013

Up to my elbows in work

 Dia altamente produtivo. Reunião multidisciplinar de Intestinal failure para acordar. Manhã restante passada a conspirar com a minha multi-publicada consultant no seu gabinete. Projecto super interesante. Parece ter futuro. Até agora os projectos publicáveis não tem passado de projectos (too much paperwork burocrático, too little paperwork nos processos....). Pode ser que esta vá para a frente. Adoro o facto de cada consultant ter o seu gabinete. E quando se tem amigos em high places, são um belo hang out. É mais calmo e bem mais agradável para trabalhar. The Cupboard é fabuloso, mas há sempre muita gente em trânsito. E é difícil resistir à conversa. E no gabinete há um sofá... Tudo parece melhor quando há um sofá por perto.

 De tarde, grande prenda de despedida. Ressecção de tumor gigante retroperitoneal. Seis horas atolada até aos cotovelos em tripa. A equipa de oncologia daqui, para além de croma, é divertidíssima. O super chefe e o chefe são escocêses. Sentido de humor afinadissímo, sotaque delicioso. O interno soon to be consultant no GOSH é o meu buddy do hospital. Tumor bad ass, envolvendo tudo. Não foi possível ressecção, só debulking. Life is a bitch. As a pick me up, deixaram-me fechar. Again, how the mighty have fallen. Cirurgia acabou tarde. Oferta de boleia para casa. Muito bem recebida, está um frio de rachar. Problema: eu continuo confusa com os sentidos dos carros e das ruas. Para piorar, a maioria das ruas do centro de cidade são sentido único. E o meu buddy não constuma conduzir na cidade (como quase toda a malta do serviço, mora longe). Resultado: 30 minutos, 3 entradas em sentido proibido e uma near death experience para fazer 4 quarteirões...

Your anatomically themed moment of Zen:


segunda-feira, 18 de março de 2013

Monday mix

 Tic tac, tic tac, tic tac... O tempo não chega para tudo. E o pensamento já vagueia de um lado para o outro. Quero ficar. Quero voltar. Quero um Scotty para me teletransportar de um lado para o outro.

 Versão resumida das (quase últimas) aventuras em Madchester:
 - mais um alongamento de tripa. Sete horas no bloco, alguma confusão, a determinada altura pensei em fazer uns trocos cobrando bilhete à entrada. Sete cirurgiões desinfectados na mesa, mais instrumentista. Caso típico de só querer mais uma entrada no logbook. De fora vê-se melhor do que da outra ponta da mesa. 
- depois de passar a semana a pensar em cupcakes, lá consegui ir à Hey Little Cupcake no sábado. A loja é tão cutie cutie pie pie, tudo rosa e fofinho, que deve transformar cromossomas Y em X. Perante a dificuldade em escolher, acabei por tomar a única decisão razoável: experimentar um de cada. Também foram só 5. For full disclosure, comi 3 na loja, provei o da minha amiga, e levei um para casa...
- nova função a juntar ao currículo: job application proof reader. O internato médico aqui funciona de uma forma cruel. Para o primeiro ano da especialidade há vagas "with a national number" e vagas sem. Que não tem um número tem que voltar a concorrer ao posto ao fim de 6 meses. Neste momento, há qualquer coisa como 20 pessoas a concorrer para 2 vagas nacionais de Cir Ped. Se não conseguirem, tem que procurar outro posto (intensivos pediatricos ou neonatais, investigação, etc...) e voltar a tentar daqui a 6 meses. Mas só podem concorrer 3 vezes. Ou seja, podem passar 2 a 3 anos nesta brincadeira, e não conseguir um número. Basicamente é uma maneira de terem mão de obra barata e qualificada nos serviços. Só em MCR há 3 pessoas no 1º ano, todas sem número. E a concorrer para as mesmas duas vagas. Very shitty. Portanto passei o sábado à tarde a ajudar a rever as job applications...
- as a pick me up, depois da depressão, fomos ver o jogo de rugby Irlanda-Itália. Uma das minhas amigas é irlandesa e adepta ferrenha. Não correu muito bem. A Irlanda levou uma sova. Nem o facto de ser o fim de semana de Saint Paddy's ajudou... Portanto, hello pub.
- manhã de domingo a passear pelo centro, em direcção aos melhores egg benedict da cidade. Onde também há o melhor brownie da cidade: com Maltesers. A seguir, rebolar para casa e ver a chuva a cair no quentinho do sofá...

Hoje dia tão variado no hospital que tenho a sensação que já é quarta feira. Reuniões, teaching, consulta, bloco. E mais uma série de italianos no serviço. Pais, criancinha prestes a ser alongada e médico assistente. Será que também cola na Tugalandia da próxima vez que referenciarem um doente? 

Your moment of Zen:

quinta-feira, 14 de março de 2013

The Midgut Mafia

 Está difícil conciliar o tempo para tudo... Tentar espremer um trabalho para publicar, aproveitar o tempo que resta com os new found friends, e dormir oito horas por dia... Ao que parece a mosca tsé-tsé suporta temperaturas negativas, ao contrário do que eu acreditava. Há anos que não dormia tanto. Acho que estou a fazer uma espécie de poupança-sono para quando voltar para Lx...

 Notícias dos últimos dias:
 - criancinha do alongamento intestinal do mês passado teve que voltar ao bloco por estenose da anastomose. Acabou por correr bem, porque um dos segmentos que não estava dilatado na cirurgia acabou por dilatar devido à obstrução, e lá se alongou mais um bocadinho. Vinte e quatro horas depois estava feliz e contente na enfermaria, a jogar ao peek a boo. É por isso que gosto de Cir Ped. Seis horas de cirurgia e no dia seguinte parece que não foi nada com eles.
- semana boa a nível cirúrgico. HRSC colónico, com anastomose ileo-anal; quisto esplénico para marsupialização; RN com perfuração do cego (provável HRSC), CCAM... Até apendicite já  vi esta semana...
- começam os jantares de preparação para o jantar de despedida...
- posso dizer que tenho um amigo no GOSH. Um dos meus buddies acabou de ser contratado para consultant lá. Deu direito a 2 dias seguidos a ir para o pub celebrar depois ao trabalho.
- já começou a busca pelo próximo inquilino para os meus humildes 2x3m2. Até agora o candidato mais pontuado é, imagine-se, um tuga. Este quarto vai virar território português em MCR, com direito a bandeira na porta e posto consular avançado.
- em compensação, o Royal Manchester Childrens' Hospital deveria ser considerado território italiano. Esta semana chegaram mais dois estudantes de Medicina de Pavia. O que eleva o italian head count do Paediatric Surgery Departament para 7.

Pronto, resumo da bola feito. Agora vou aninhar-me no sofá com uma série idiota, um pacote de giant cookies, uma embalagem de Haagen Dazs de doce de leite, e uma faca de cozinha afiada para esfaquear o próximo que se lembrar de acusar as mulheres de utilizarem as suas oscilações hormonais para se safarem com comportamentos insanos.



segunda-feira, 11 de março de 2013

White sunny day

 Luvas definitivamente fora do armário. Neve e sol. Combinação agradável, mas que dá vontade de estar numa estância qualquer a esquiar e não a caminho do trabalho... Aliás, onde está metade do serviço. Ao que parece, este retorno repentino do frio faz parte da "primavera" de MCR. Ao ponto de se verem flores em todo o lado a tentar furar a neve. Weird...

 Para não variar, Monday means meeting. Hoje foi X-Ray, que quase acabou em pancadaria (e deu-me um aperto no coração, com saudades de casa), seguido de Pathology MDT, onde uma senhora muito simpática com ar de cientista maluca mostra slides de peças cirúrgicas a cirurgiões. Um ou dois até fingem perceber o que estão a ver, mas acho que a maioria concorda com a resposta dada à pergunta "Então o que é que vêem agora?" - "Pink stuff". Eu achei piada. À tarde, Short Bowel Clinic. Tive o meu primeiro abracinho espontâneo inglês. Very cute. Até porque aqui não há nada daquela treta do "vai dar um beijinho à Drª. Vai lá, já te disse. Então? Despacha-te. Dá lá um beijinho à Drª, tu gostas tanto dela. Mau. Ou vais já ou levas!". Por aqui, quando muito um aperto de mão.

 Em casa, primeira aula de culinária. Risotto de gambas e calamares. Confesso que ao invés de prestar muita atenção andei só à procura de receitas do mesmo para a Bimby... Mas aprendi a fazer o baby fig pudding com mascarpone. Talvez ainda haja esperança.

 Your moment of Zen, courtesy of Student Council Elections:




domingo, 10 de março de 2013

Mother's Day Meandering

 Apesar dos ingleses dizerem que nunca deixam de fazer nada por causa da chuva, já não se pode dizer o mesmo em relação à neve... Passeio pelo Peak District cancelado devido à neve. Dia frio à séria. Programa alternativo: já que eu não tenho a minha Moms por perto para passar o Mother's Day com ela, fui passar o dia com a mãe dos outros. Mais especificamente, da namorada do Chefmate.

 Para começar, pequeno almoço em Hale, uma vila/subúrbio posh a 20 min de Manchester. Um em cada 2 carros na rua era um BMW, Mercedes ou Jaguar. Não vi nenhum Bentley, mas segundo me disseram costumam fazer parte da flora local. Muito agradável. Mantendo o posh theme, o meu pequeno-almoço foi um Millionaire shortbread delicioso... Depois seguimos para casa da mamã, perto de Chester. The english countryside realmente é bonito. E as casas são deliciosas. Consistentes. Apesar dos diferentes estilos, continuam a ser de tijolinho. Não se veêm abortos arquitectónicos de emigrantes por aqui... Uma vez chegados ao destino, muito bem recebida pela família. Super simpáticos, cheios de histórias para contar. Direito a almoço/picnic (as sandochas para o passeio a pé já estavam preparadas), seguido de passeio até ao Anderton Boat Lift. Conforme o nome indica, é um elevador para barcos. Há que admirar os feitos de engenharia dos vitorianos. Basicamente é uma engenhoca que transporta barcos de um sistema de canais até ao rio Worsley, com desnível de 10 metros. Giro. Depois mais um passeio a pé pelos canais, até chegar ao almost freezing point, e então pub para aquecer. Discussão levou à teoria que a cerveja aqui é quente porque serve para aquecer. Faz sentido, mas não torna a cerveja quente mais apetitosa. Finalmente, retorno ao lar para um proper sunday roast, com direito a Yorkshire pudding e tudo. Fim de tarde agradável, passado com a família na cozinha, a preparar o jantar. A minha participação, para não variar, consistiu em descascar vegetais e providenciar chit chat. A sério, um dos projectos quando voltar a casa é inscrever-me num curso de cozinha a sério. Vão ver, daqui a uns tempos até cozinho sem Bimby. Voltando ao jantar. simplesmente adorável. Mas só fez com que as saudades dos VDS fossem ainda maiores... Regresso a casa após o jantar. A dormir no banco de trás como uma criancinha...

Your moment of Zen:



sábado, 9 de março de 2013

Do SimMen dream of SimSheep?

 Hoje foi um dia cansativo. Brincar com bonecos o dia interior cansa. A sério. São 21h, sábado à noite, e eu já estou de pijama, pronta para dormir. Alvorada às 06h45, com as pernas ainda cansadas do aero-ceilidh de ontem. Comboio das 07:44, em direcção a Preston. Da estação de comboios até à estação de camionetas a pé. Depois autocarro até ao Royal Preston Hospital, parte dos Lancashire Teaching Hospitals. Não sei se é a minha cara laroca, ou se é mesmo uma questão cultural, mas até agora todos os condutores de autocarros tem sido extremamente simpáticos para mim. Tanto que eu até lhes perdoo o tratarem-me por "luv". O percurso do autocarro acaba mesmo em frente à entrada principal do hospital. O senhor fez um percurso alternativo para me deixar mesmo à porta do Education Center, porque estava a chover... Enfim. Portanto, Trauma Simulation Day. Apresentação sobre a organização da emergência pré-hospitalar, Major Trauma Centers e Trauma Units. Diferenças em relação à Tugalândia:
 - não existem médicos na emergência pré-hospitalar, só paramédicos;
 - os major trauma center não têm necessariamente todas as especialidades, e muitas vezes funcionam como hospitais com "corredores muito longos"; de acordo com a necessidade de uma ou várias especialidades, o doente vai para  uma trauma unit (por exemplo, o hospital que tem Cardio-Torácica), ou vai para o major trauma center  e depois para a trauma unit, ou o especialista vêm de outro hospital para ver o doente. Ainda bem que é um drama a NC estar no HSJ...
 -os doentes devem ser observados por senior consultants à entrada, para diminuir o intervalo de tempo das tomadas de decisão;

  Em seguida, apresentação sobre trauma pediátrico pela minha Education Guru. E depois é que começou a brincadeira... O centro de simulações deles é surreal. Tem duas para correr simulações, à séria, com vidros espelhados e microfones para observar o que é que o pessoal anda a fazer. Os bonecos são os SimMan, que podem ser programados em todos os aspectos - sinais vitais, clínica, queixas... Extraordinário. Este curso foi organizado pela Preston Surgical Society, basicamente um grupo de estudantes de medicina que tem um interesse particular por Cirurgia e organiza cursos e seminários sobre cenas cirúrgicas. A maior parte dos alunos hojes eram estudantes de Medicina dos 2º ao 4º ano e Paramédicos in training. O nosso cenário era um míudo de 14 anos que foi ao pub com o irmão beber uns copos e acabou esfaqueado num bar brawl, com um hemotórax à dirieta. Os alunos eram a equipa que o recebia na urgência. Aquilo que o boneco é capaz de fazer é inacreditável - alteração da expansão da caixa torácica, diminuição dos sons respiratórios, fica suado... Além de que temos um microfone para falar pelo boneco. Como o doente estava supostamente alcoolizado foi uma boa oportunidade para dizer asneiras em voz alta e abusar verbalmente os alunos... E o estar do outro lado do vidro, a observar as reacções e atitudes é muito interessante. Dá para perceber quem é tímido ou inseguro, quem é over confident, e quem realmente sabe o que faz. E a diferença entre os paramédicos e os médicos foi impressionante: os 1ºs tinham uma abordagem muito mais prática e desenvolta no início, mas quando chegavam à parte de tratamento bloqueavam; os 2ºs tinham uma abordagem prática muito mais desorganizada, mas um processo de raciocínio mais streamlined. Foi um dia muito bem passado, e ainda com direito a uma garrafa de vinho de presente por ter ajudado! Quando voltar a casa tenho que pedir uma visita guiada ao novo centro de simulação do HDE...

 Depois do curso, jantar em casa da Guru. Fica no meio do nada (a vila mais próxima fica a 5 km e tem 30 habitantes), com direito a horta, estufa, patos, galinhas, ovelhas e até um cavalo. A casa em si é super acolhedora, com uma lareira e mesa gigante na cozinha, e sala com sofás ainda mais confortáveis que o Baby e todas as paredes recobertas por estantes. Cheia de fotos de família e desenhos do míudo, E um labrador preto que me adoptou assim que entrei em casa. Na realidade, senti-me como se estivesse a visitar a casa dos Weasley (sim, é uma referência ao Harry Potter. Assumo a minha Pottermania. E já agora, a minha potomania. Da cerveja, claro). Enquanto o marido da Guru preparava o jantar (batatas do quintal no forno e bife de vaca do vizinho), nós fomos alimentar as ovelhas e o cavalo. Tive direito a calçar umas Wellies ( as Hunter aqui são mesmo para usar na lama e na neve, e não como fashion statement) e andar a correr na lama a perseguir cordeirinhos e a tentar não cair. Squish squosh à séria. Os carneiros e as ovelhas são maiores do que imaginava. E assustadores quando vêm a correr na minha direcção. Mas não costumam atacar (ao menos, foi o que me disseram...). Senti-me uma criança na quintinha pedagógica. Depois jantar fabuloso - bife cozinhado em sous vide. Estou rodeada de chefs...

 Agora, caminha, porque amanhã é dia de caminhada no Peak District.

Your moment of Zen, courtesy of Preston:



sexta-feira, 8 de março de 2013

Scots and scotch and scotish dancing

 Acho que Maschester has finally shown its true colors. Mais um dia cinzento e frio, com chuva intermitente ao longo de todo o dia... Perspectiva Polyanna de um dos colegas do serviço: assim ao menos não vou ter tantas saudades da cidade. Unlikely.

 Dia agitado no bloco. Muita coisa em muitas salas. Lembrou-me as tardes fabulosas de sessão tripla com o Progenitor no Arrabida Shopping, a pular de uma sala para a outra, só parando para reabastecer o balde de pipocas. Conversa cirúrgica do dia: nao seccionam os vasos curtos do estômago nos Nissens (nem abertos nem fechados, só mesmo em caso de necessidade), e só dão 3 pontinhos no wrap, num só plano. E shocker: não laqueiam as fístulas recto-uretrais nas MAR masculinas. Seccionam e ficam algaliados 10 dias. E pronto. Dizem que não têm mais recorrências assim. Tá bem, eu vou tentar acreditar...

 Programa social do dia: convite para um Ceilidh, que é como quem diz bailarico escocês (se quiserem ser picuínhas, bailarico originalmente celta, mas apropriado pelos escoceses e irlandeses). Prometeram-me homens de kilt e scotish accent, e quantidades copiosas de álcool. E uma verdadeira noite out à inglesa, com direito a ir e voltar de comboio à noite. Não tive como dizer que não. E foi na realidade super divertido. Nem tive tempo de encontrar alguma coragem etilíca, assim que chegamos começou o bailarico. Coleguinha e eu imediatamente raptadas para dançar. As danças são mais ou menos coreografadas, com direito a um senhor velhinho a explicar os passos inicialmente. Adorei. É mais cansativo do que uma aula de aeróbica. Mas a música é melhor. E sempre se dança com uns scotish lads. E sim, haviam efectivamente homens de kilt, e mulheres com as saias tartan. A faixa etária estava mais para Sean Connery do que para James McAvoy, mas o scotch ao que parece dá energia e animação...  Para terminar, momento Cinderella: ter que abandonar a festa a meio para apanhar o último comboio de volta a MCR. E partilhar o comboio de volta com a juventude perdida e muito bêbada da grã bretanha...

 E outra vez, tanta aventura e são só onze e meia...

Agora fazer oó, porque amanhã a alvorada é cedo. Convite para participar no Trauma Simulation Day. Espero que me deixem fazer de vítima...

quinta-feira, 7 de março de 2013

Grey day blues

 Esta semana ando preguiçosa... O Universo voltou ao mode scumbag. Dias cinzentos e chuvosos, e uma gripezinha para parar de falar sobre a maravilha que é o tempo em Manchester.

 Novidades da semana:
 - económica: esta semana aprendi a usar os kits de reparação dos CVC. DIY for dummies. Quarenta e cinco libras, e poupa um acesso venoso e uma ida ao bloco. Gostei. Mais uma novidade que não é novidade para levar para casa.
- cirúrgica: finalmente operaram o miúdo do pâncreas. Pancreatectomia subtotal. Tenho as costas feitas num oito depois de passar 5 horas a tentar encontrar ângulo de visão para o campo operatório. Mesmo assim, vi mais do que a ajudante... Cirurgia delicada, morosa, mas bonita.
- científica: fui conhecer o Brain Bank do departamento de Neurofisiologia da Universidade de Salford. Precisei de lá ir buscar uns slides para um projecto e acabei por passar metade da tarde a olhar para cérebros em jarros. Idéia muito interessante, com 2 cientistas meio maluquinhos que fazem tudo, desde  processar os cérebros a atender telefonemas. Pequeno interlúdio no mundo académico. Só me lembrava da colecção de cérebros do Cushing...
- académica: nova sessão de teaching hoje. A gostar cada vez mais. Scary.
- pessoal: graças a um vírus qualquer idiota que anda a derrubar os cirurgiões do meu serviço passei a manhã de quarta feira na cama a curtir uma febrezinha. Fiz uma Pajama Pity Party for One. Mas à hora do almoço i decided to just stop being sick and be awesome instead. True story. E acabei o dia a comer uns eggs benedict seguidos de bolo de chocolate num cafezinho super cosy, a ler um livro. Tomá lá, stupid bug.
- social: planos para a minha despedida multiplicam-se. Neste momento já tenho 3 jantares e um torneio de paintball. Sniff sniff isto vai custar...





segunda-feira, 4 de março de 2013

Bad teacher

 Manhã gloriosa. Acho que o clima de Manchester foi vítima de uma campanha de difamação. O sol claramente chegou antes do calor, mas para dizer a verdade, há uma semana que não uso luvas ou gorro... 

 Esta semana, para variar, não houve X Ray meeting. Portanto o Undegraduate Teaching foi logo a seguir ao Hando Over. Dou por mim a achar piada a ser uma espécie de assistant teacher. Nunca pensei ter veia pedagógica. Mas até tem corrido bem. Pelo menos, bem o suficiente para ser convidada a fazer a sessão sozinha daqui a duas semanas. A ver vamos... Depois do primeiro round, Graduate Teaching. Começou com uma discussão sobre a importância relativa da Cirurgia Pediátrica in the grand scheme of things. Constatação que fazemos muito por muito poucos. E que no momento em que for preciso escolher, programas "baratinhos" como o ECMO bem podem dizer bye bye aos fundos... Humbling thoughts... Bem, se a Cir Ped não der futuro, acho que daria uma boa nanny (principalmente a receber 2000libras por mês, com direito a carro de serviço, como uma das consultants do meu serviço está a anunciar...). Depois sessão sobre "The welfare system in the islamic peninsula chaliphate 678 - 1258 AD", que por acaso é o tema da tese de doutoramento de um dos consultants. Apesar disso, muito interessante. But then again, I am a sucker for the history of medicine...

 Tarde passada no bloco, day cases. Nada extraordinário. Mesmo assim, deu para só sair às 6. Encontro fortuito à porta do hospital, que deu direito a jantar num restaurante estranho mas delicioso: comida de rua árabe mas com direito a umas mesas. Muito bom. 

 Hoje começaram a combinar o meu Leaving Do. Jantar num cool burguer place (como me conhecem tão bem em tão pouco tempo?). Só a idéia já angustia um bocadinho...

Your moment of Zen, courtesy of The Gay Village:


 

 

domingo, 3 de março de 2013

Weekend walks

 Sexta feira: supostamente dia inteiro dedicado a um pâncreas laparoscópico (hiperinsulinsmo congénito). Doente chumbado à porta do bloco. Damn. Quick ward round, long lunch e consulta de "Firsts" à tarde. Duas herniazinhas umbilicais para a lista de espera, a cripto que afinal não é cripto do costume, e mais umas quantas tretas... Deu para chegar a casa cedo, enroscar no sofá e acabar finalmente o meu livro. Jantar banal. Ice cream run às 23h. É o problema de viver com um enabler. Um diz mata, o outro diz esfola...

 Sábado de manhã preguiçoso, mas motivada pelo dia glorioso lá consegui arrastar-me da cama. Convite para café com amiga do hospital e passeio pela cidade. Centro florescente de tantos policias. Ontem havia uma expectativa de confusão por causa de duas marchas opostas pela cidade, uma da EDL (English Defence League, um grupo assim a dar para o neonazi) e outra da UAF (Unite Against Fascism, nome very self explanatory). Não houve confusões, mas fomos delicadamente avisadas que seria melhor evitarmos o centro da cidade. Como boas meninas, fomos para o outro lado dos canais, passear por Salford. Terminamos o passeio na Patisserie Valerie, para repor calorias. Take away, para aproveitar o sol na varanda dela. Fabulous Black Forest Cake. Para gastar o resto das calorias, lonely walk pelo Northern Quarter. É impressionante o que um bocadinho de sol faz a esta cidade. De repente, todos os pubs e restaurantes têm mesas na rua, e por todo o lado há gente. Apesar de ser um bocadinho too hipster, continua a ser a minha parte favorita de MCR. Jantar gourmet em casa. Chefmate resolveu fazer boef bourguignon para o jantar. Delicioso. Para fazer a digestão, passeio até ao bar do restaurante do Jamie Oliver, beber uma cerveja artesanal. So-so...





 Hoje, finalmente coragem para ir a Liverpool. Comboio rápido e agrádavel. In flight entertainment providenciado por uma turista chinesa a dormir no lugar à frente do meu e a dar gritinhos excitados durante o sono. Não quero saber o tema onírico... Recebida na estação por um céu cinzento e um bocadinho ameaçador. Munida de café pretensioso para aquecer as mãos, lá fui à descoberta. E tive direito a um fabuloso momento damsel in distress. A 3 passos da estação fui abalroada por uma criancinha mal educada, entornando o café na minha mão. E depois acusam-me se não gostar muito de criancinhas. I wonder why. Criancinha e mãe igualmente mal educada foram embora sem dizer nada. Mas tive direito a salvamento por 2 hunky chunky firefighters que estavam estacionados na praça à frente da estação. Aliás, estavam 4 ou 5 carros de bombeiros aí estacionados. Pelo calibre dos que eu vi, bem podiam estar a preparar o calendário Hot Firefighters 2014. Se os Bombeiros Voluntários fossem deste calibre provavelmente teriam mais sorte nas recolhas de fundos... But I digress... Apesar da pronta ajuda, não foi necessária transferência urgente para a Unidade de Queimados mais próxima. Nem sequer chegou a queimadura de 1º grau. Portanto, sem mais desculpas, abandonei os meus salvadores e segui o tour turistíco. Primeira paragem, World Museum. Um museu generalista, com direito a aquário, insectário, dinossauros, e human history (que é como quem diz antropologices). Adorei. O museu é superintereactivo, com áreas semelhantes a uma sala de aula onde se pode mexer em tudo. A sala de história natural é o meu sonhos de infância: esqueletos, animais em frascos, borboletas em quadros, um microscópio... Acabei por me distrair e passar lá 2 horas... Descida calma em direcção ao rio, passando pelo Commercial Quarter. Edifícios enormes, linhas rectas, poucas janelas, estátuas. Parece o set de um misto de Metropolis, Dark City e Gotham. Beira rio parece um parque de diversões, com museus, monumentos e edifícios históricos. Voltei a perder-me no Liverpool Museum e depois no Tate. Ainda pensei ir ao Beatles Story, mas o facto de já ser tarde e as 15£ fizeram-me repensar a opção. Acabei por dar mais uma volta a pé até à catedral anglicana. Deveras imponente, com um ar muito clássico, apesar de só ter sido terminada em 1970. Ao lado, cemitério vitoriano, com direito a musgo e jovens góticos. Muito bom. Dali, peregrinação até à outra catedral (a católica), passando por Chinatown. Cheguei tarde, já estava fechada. Anoitecer = frio =hora de apanhar o comboio de volta. Consegui a proeza de passar um dia em Liverpool e picar o ponto em nenhuma das paragens obrigatórias da Beatlemania...


 










E agora, decisões difíceis:  Metropolis ou Dark City?

 Your moment of Zen, versão Liverpool:




quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Musical munchies

  A Primavera chegou de vez. Percurso matinal feito ao sol. Os óculos escuros já tem lugar cativo na mochila. E apesar de continuar a sair do hospital tarde e a más horas, ao menos ainda há luz...

 Dia deveras relax no hospital. Ward round, consulta de manhã e hanging out com o consultant que estava de banco à tarde, à espera de coisas interessantes. Que não apareceram. Valeu pela conversa e pelas gargalhadas. Tudo soa melhor com sotaque escocês.

 À noite, programa cultural. Ida ao teatro ver The Grand Duke by Gilbert and Sullivan, no RNMC, com a malta do hospital. A filha de um dos consultants entra na peça, e tivemos direito a bilhetes à borla. O pre-show dinner foi cancelado à última hora por atrasos no bloco (é o que dá combinar coisas com cirurgiões). Portanto, fomos ver a peça de barriga vazia. Apesar das boas vozes, tudo o resto era demasiado amador. Entre a fome, as cabeçadas de sono, e o facto de já estarmos todos um bocadinho perdidos no plot, resolvemos fugir no intervalo para jantar. Acho que só família, significant others e bons amigos é que aguentaram até ao fim... Nova aventura. Tentar encontrar um sítio decente para jantar às 9 da noite não é fácil. As opções são comida de ressaca (kebab e companhia) ou pub cheio de bêbados. Lá encontramos um italiano simpático. Boa pizza, massa ainda melhor. Muito mais apetitoso que a segunda parte do musical.

 Your moment of Zen:

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Museum monsters

 Ontem combinação mortífera: sala cheia de sevofluorano + noite de insónia + jantar pantagruélico no buffet chinês às 19h = na caminha a fazer óó às 20h30. Dormi 10 horas como um anjinho. Nem me lembrava do que era dormir tanto...

 Os umbigos estão na moda. Ontem uma persistência do úraco, hoje uma persistência do canal onfalo-mesentérico com direito a divertículo de Meckel. Nunca tinha visto nenhum dos dois. Educativo. 

 Na enfermaria, mais uma reprimenda de uma das matrons. Estava à procura de um processo ao pé da nurses' station (cantinho das enfermeiras), e pousei o café na bancada, ao lado dos computadores, para ter as duas mãos livres. Qualquer coisa como 1 minuto. Já estava com café e processo na mão, a caminho da sala dos médicos, quando a matron veio a correr atrás de mim, a dizer que tinham feito queixa de mim, e que deixar o café na mesa das enfermeiras era "totally unaceptable". Isto dito com um ar de quem me queria bater. Totalmente desnecessário. Um aviso educado teria sido suficiente. E evitável se as totós da enfermaria não andassem a roubar os processo da sala dos médicos... Não gosto das matrons e sisters. Prefiro as nossas enfermeiras. Mais simpáticas e honestamente mais competentes.



 Ordem de soltura às 15h. Yupi! Tarde de sol, ao ponto de precisar dos óculos escuros. Duplo yupi! Aproveite para passear pelo campus da Universidade, que na realidade atravesso todos os dias a caminho do hospital, mas que nunca tive tempo para explorar. Como o resto da cidade, mistura de edifícios vitorianos com outros mais recentes. Com uns quantos relvados e jardins à mistura. Estudantes em todo o lado. Muitos espalhados nas escadas e relva, a aproveitar o solzinho. Um grupinho a treinar malabarismos. Se economia e engenharia não providenciarem um bom futuro podem sempre aproveitar o exemplo lisboeta e perform nos semáforos de MCR. Passeio a terminar no Manchester Museum. Bela surpresa. Museu eclético, com direito a moedas, artesanato africano, múmias, e uma secção espectacular de história natural. Com direito a expositores vitorianos de madeira e animais empalhados, e modelos monstruosos e esqueletos de dinossauros. Old school mas com um toque moderno. A programar regresso com mais tempo. No caminho para casa, momento deveras Fame. Todos os dias passo pelo Royal Northern Music College, mas do lado oposto da rua. Hoje passei mesmo em frente, e reparei que há janelas para as salas de ensaio. Um trio de violinos, um piano e um violoncelo, uma jovem a tocar oboé. Só faltou alguém a dançar em cima das mesas....

Your moment of zen:





segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Upside down

 Monday morning Morbidity and Mortality meeting (agora repitam 3 vezes de seguida rápido). Continuo impressionada com a capacidade analítica e crítica desta malta. Discussão civilizada, objectiva e constructiva. Depois da reunião fui convidada a participar na sessão de Teaching dos alunos do 4º ano. Basicamente, discutir o trivial da cirurgia pediátrica e alguns highlights (ou seja, hérnias e pilinhas e atrésias do esófago e hérnias diafragmáticas). Em defesa dos alunos, não tem medo de falar. Contra eles, também, não tem medo de falar baboseiras. Fiquei pouco impressionada com este grupo. Não pela falta de conhecimento em Cir Ped (que é totalmente perdoável), mas falta de conhecimentos cirúrgicos no geral. Em discussão posterior com a minha aluna porreira (a que é inteligente e traz homemade cookies), descobri que na Universidade de Manchester ( e em mais algumas, o currículo não é igual para todas as escolas) pode-se fazer todo o curso de Medicina sem se passar por um estágio cirúrgico. Todos os estágios cirúrgicos são electives. Acho mal. Além disso, metade do curso é constituído por "fluff", cadeiras que não são propriamente científicas ou clínicas. Management, quality control, patient satisfaction. Pelo que percebi, os alunos não andam muito contentes com isso. No ano passado o curso de Medicina de Manchester foi um dos que teve pior classificação a nível nacional relativamente a satisfação dos alunos. A administração ficou passada, e resolveu o problema de uma forma simples: ofereceu um Ipad a todos os alunos dos anos clínicos. Com o objectivo de... Enfim... Estão a desenvolver uns programas e cenas... E... Pois... Os alunos chamam-lhes os Bribepads. Parece-me adequado.

 À tarde, Short Bowel Clinic. Já começo a conhecer algumas caras. Bom para mim, normalmente mau sinal para a criancinha. Continuo completamente maluca com a dieta desta gente.  Para mim  roça os maus tratos... Tendo em conta que estes miúdos não são propriamente saudáveis para começar, uma dieta baseada em comida de microondas não me parece boa idéia. Tive esta discussão hoje com a dietista que acompanha a consulta, para tentar perceber se é uma questão financeira ou cultural. Segundo ela é em grande parte cultural. As pessoas simplesmente não sabem cozinhar. E também, diga-se de passagem, os supermercados daqui não são muito fresh produce friendly.

 Para contrabalançar o excesso de criançada na minha vida, a minha turma de yoga inclina-se bastante para o outro lado do espectro. As aulas não são propriamente muito desafiantes em termos físicos, mas sempre dá para alongar a coluna. Porém hoje a professora resolveu animar a aula com algumas posturas invertidas, em que ficávamos pendurados de cabeça para baixo em cordas fixas à parede (parece um bocadinho S&M, mas não é). Retornaram todos à infância. Um pouca a medo inicialmente, lá foram um de cada vez, ajudados pela prof. Nunca os vi tão felizes. Risinhos, gritinhos, pedidos de repetição. Adorei. E apesar do meu medo inicial, ninguém partiu a bacia nem tive que reanimar ninguém...

 Your moment of Zen:


Culture, conversation and cold beer

 Ah, London, London... Gosto destas visitas de semi-turista. De encontrar coisas novas, mas ter tempo para revisitar old favourites. Sábado de manhã saí resolvida a conhecer o Sir John Soane's Museum, em Lincoln's Inn Fields. Quando lá cheguei, deparei-me com uma fila com tempo médio de espera para entrar de 45 min. A vontade de visitar o museu esmoreceu muito rapidamente. Sem falar do frio que estava na rua. E que do outro lado do jardim estava o Hunterian Museum, cheio de gore cirúrgico. Velho conhecido. Mesmo assim, entretenimento até à hora do almoço, perdida entre jarros com espécimens e intrumentos cirurgícos antigos... Regroup com anfitriões e companhia para almoçar no Borough Market. Foodie heaven. A quantidade de cheiros e cores é suficiente para confundir o cérebro. E decidir o menu? Tortura... Almocei uma fabulosa sandes de venison e wild boar. Na fila, que espanto, outro grupo de tugas. Estão em todo o lado. Por vezes sinto-me quase em Lisboa. Sobremesa: chocolate gooey brownie. Um verdadeiro tijolo de chocolate, tão denso que fui obrigada a admitir a derrota e guardar metade para o lanche. Para fazer a digestão, longo passeio pelo South Bank, a maldizer o frio. Caminhada até Covent Garden, para reunir com outros emigras e fazer um programa realmente inglês: ver o jogo de rugby no pub. Com direito a uma aula de Rugby 101. No fim do jogo já percebia o suficiente para saber a altura correcta de gritar palavrões. Depois do jogo, mudança de pub e mais umas quantas adições ao grupo. A determinada altura alguém perguntou se havia jantar. Resposta em uníssono: "Eating is cheating!" Do pub directamente para o Karaoke Box. Jantar acabou por ser pizza ao som de vozes esganiçadas. Ao fim de 2 horas, já sem voz, próxima paragem para os resistentes: Reflex. Imaginem voltar atrás no tempo, lá para os idos anos 80. Aqui não é só a música que é retro. Roupa, cabelos, maquiagem, tudo. A malta leva isto mesmo a sério. Adorei. Melhor parte: within walking distance de casa. No caminho de volta, tentativa de levantar dinheiro para o kebab. Sem perceber como, acabei por levantar euros e não libras. Nem sabia que era possível...

 Manhã seguinte, rise and shine às 09h. Deixei os anfitriões dormirem e fui dar uma volta até Oxford Street. O plano era andar até ao British Museum. Mas a meio do caminho encontrei a Foyle's, uma livraria com 5 andares, e acabei por andar perdida durante 3 horas... Se não tivesse recebido um telefonema da minha anfitriã provalvemente ainda estaria por lá. Quick metro ride até Brick Lane. People watching and bargain hunting enquanto o tempo permitiu. Para aquecer, exposição do Roy Lichenstein no Tate Modern. Só mesmo para provar que a minha vida não é só cerveja... Comboio de volta para Manchester, com alma renovada...

sábado, 23 de fevereiro de 2013

I see Hollywood people. Walking around like regular people

 Dia perfeito. Acordar de manhã sem despertador (às 08h, mas mesmo assim...). Pequeno almoço num hotel hip and cool em Old Street com a anfitriã. Eggs Forrester e boa conversa. Seguido de passeio até à National Portrait Gallery, para ver a exposição de fotografia do Man Ray. Que é fabulosa. Com direito a celebrity sighting. A determinada altura dei um encontrão a um senhor grisalho. Quando me voltei para pedir desculpa dei-me conta que era o Richard Gere. Apesar do cabelo totalmente branco continua muito charmoso. E com um belo sorriso... A seguir, exposição de fotografias da Marilyn Monroe. Also fabulous. Depois de vaguear por mais 2 horas pelas galeiras, merecido cházinho no bar do museu, que tem uma vista lindissíma sobre Londres. Em seguida, very nice stroll por Soho e Covent Garden, para acabar numa transversal manhosa, num restaurante de Dim Sum já conhecido da anfitriã. Almoço às 4 da tarde. Mas almoço à mesma. Seguido de uma decisão difícil e dolorosa: para sobremesa um cupcake da Humming Bird ou um chocolate cheesecake da Etos? Decisions, decisions... Acabou no cheesecake....Depois casa, para apanhar o anfitrião e o 3o mosqueteiro e seguir para jantar. Desta vez foi italiano. Vantagem de passear com os locals: conhecem a cheap London. Restaurante muito simpático, boa comida, bom vinho, tudo pela módica pechncha de 20£. Em seguida, para aquecimento,  bar com hip hop dos anos noventa para maiores de trinta. Very  old school. Para continuação, bar de salsa/latinices. Respirei fundo, bebi um mojito (impecável, por sinal) e put on my dancing shoes. Acabou por ser divertidíssimo. Na volta para casa, pit stop no Melhor. Kebab. Do. Mundo. Segundo anfitriões. Na minha opinião não era mau, mas o facto de ficar a 50m de casa, no trajecto de volta da zona dos bares deve ajudar bastante...

 Planos para amanhã: Borough Market para foodie tourism. Outros planos a serem determinados pelo mood do momento. Adoro ser turista sem stress...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Long weekend

 A tempestade já passou. Back to my bubbly self. Afoguei as mágoas com um burrito e várias cervejas, uma das quais no restaurante mancuniano do Jamie Oliver, Jamie's Italian. O local é muito giro, um antigo banco. As casas de banho são no cofre. Ouvi dizer que a comida é muito boa. Já ficou acordado regresso para jantar.

 Hoje no hospital 3 salas com tretas. Mas lá desencantaram um RN para alegrar o dia. Atrésia duodenal. Abordagem peri-umbilical. Acho que percebi o truque. E a exposição é equivalente, só envolve esticar um bocadinho mais a pele.

 Coisas estranhas que vi no hospital nos últimos tempos:
 - médico de chinelos tipo birkenstok sem meias na unidade de cuidados intensivos
 - enfermeiro a fumar cigarro electrónico no bloco
 - visita médica interrompida porque era hora de rezar
 - pequeno almoço "quente" servido aos doentes da enfermaria ( é o equivalente do pequeno almoço inglês que se come no algarve, com bacon, feijões, ovos, etc)

 Apesar de ter sido muito bem recebida, e de considerar que realmente tenho amigos aqui, por vezes é preciso ver uma cara conhecida. Portanto pedi uma folga para 6@ e cá estou em Londres, acampando no sofá do costume. Três dias de cultura e copos. Just what the doctor precribed.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

...

Hoje é um dia não. Não há paciência para escrever. Tenho a certeza que amanhã vai ser melhor.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Good clean family fun

 Hoje foi difícil sair da cama. Mas valeu a pena. Manhã primaveril (se ignorarmos os -3ºC). Fui de óculos de sol para o trabalho. Quem diria...

 No hospital manhã passada na consulta. Sem nenhum descritivo especial para além de "General Paediatric Surgery". É bom saber que não somos só nós a receber referências da treta. Dos 8 doentes vistos na consulta, 2 carrapetas para o bloco e 6 directamente para casa, sem passar pela casa partida e sem receber marcação para próxima consulta.

À tarde, mais uma prendinha da NICU. Hérnia diafragmática nascida no domingo, em condições de ir ao bloco. Já agora, lista de RN operados no fim de semana: malrotação, ileus meconial perfurado, NEC. Estou a tentar convence-los da minha fama de amuleto de boa sorte para as hérnias diafragmáticas. A de hoje correu bem. Pode ser que cole. Discussão interessante com a anestesista acerca de extubações precoces. Segundo ela, só não extubou o doente de hoje a pedido do cirurgião. Aqui são apressadinhos em tudo. As gastrosquisis saem extubadas do bloco. A última malrotação que vi (operada por via circumbilical)  foi para casa (sim, casa) ao fim de 5 dias. E pelo que vejo os pós-operatórios são calmos, sem grandes dores ou desconfortos. Food for tought...

Programa social do dia: jantar de família. Uma amiga do hospital convidou-me para jantar com os pais e o irmão. Já tinha saudades de comida da mamãe (mesmo que não seja a minha). E de jantares de família. Adorei. Às vezes é dificil acreditar que só conheci esta malta há 6 semanas... Time does fly when you are having fun.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Red tape rules

 Monday morning meetings. Primeiro hand over com weekend update, que leva sempre uma hora, seguida de reunião com a Radiologia para discussão de casos e cravanço de exames. Depois escapadela para buscar café pretencioso. Sou obrigada a confessar que estou a ficar seriamente agarrada. Apesar do preço. Largar um vício é só abrir uma vaga para outro. Enfim... Do café para a sessão de Teaching. Hoje foi com uma das administradoras do Trust, responsável pela Cir Ped. Tivemos direito a uma pequena introdução ao NHS, e de onde vem os fundos, blá blá blá, para explicar porque é que é importante preencher os papelinhos todos. Porque se não se cumpre com os objectivos burocráticos não há dinheirinho para ninguém. A estrutura burocrática daqui é ainda mais absurda que a do SNS. E o método de financiamento dos hospitais ainda mais estranho. Embora estejam ambos igualmente falidos. E aqui as medidas de poupança são um tanto ou quanto esquizofrénicas. Por exemplo, não são fornecidas fraldas para além das 1as 24h de internamento. Mas no bloco abre-se uma série de material antes mesmo da cirurgia começar (referências vasculares, amendoins, etc) que muitas vezes nem sequer são usados. First world problems...

 Tarde na consulta. Continuo a ficar impressionada com os hábitos alimentares daqui. Ainda não vi uma única pessoa entrar na consulta com uma garrafa de água na mão. Mas toda a gente traz Coca-cola ou similar. Mesmo miúdos de 3 anos. E batatas fritas. Surreal. Ainda bem que esta é uma consulta específica para miúdos com poop issues (too much or too little), para quem a dieta não faz diferença nenhuma...

 Regresso a casa coincidente com pôr do sol. Gotta love pink sunsets... Em casa, procrastinating like a boss. Até me dei ao trabalho de fazer o jantar (tá bem, tá bem, descongelar é um termo mais correcto). Agora não tenho mais desculpas para não trabalhar. Damn.

 Your moment of Zen:

domingo, 17 de fevereiro de 2013

On the Waterfront

 Há uma campanha publicitária da Twinings cujo slogan é "Gets you back to you". Não sei se é por causa dos litros de chá que tenho consumido, ou se pela mudança completa de ares, mas ultimamente ando a sentir-me "eu" outra vez. Devagarinho, pequenas coisas que eu fui perdendo com o ram ram da vida adulta estão a voltar. Música, livros, filmes, caminhadas. Tempo livre e possibilidade de ser egoísta fazem maravilhas. Já quase percebo porque é que fui carded no outro dia... Hoje foi um bom exemplo. Depois de uma semana com neve e chuva, o fim de semana foi uma primavera prematura. Good guy Universe. Aproveitei para finalmente conhecer Salford Quays, que é mais ou menos a Expo cá do sítio. Antiga zona industrial, onde acaba o sistema de canais de MCR. Agora zona de entretenimento + serviços + habitação. Quinze minutos de tram, banda sonora cortesia da minha nova rádio favorita. Paisagem industrial-decadente mixed com industrial-renovado/design. Alguns descampados. Última paragem em frente aos novos estúdios da BBC. Caminhada ao longo dos canais, a aproveitar o sol. Grande promiscuidade entre edifícios institucionais e de habitação. Para não variar, janelas enormes e varandas. Por muito que se tente resistir, há sempre um momento Peeping Tom: uma mulher a regar as plantas de pijama, 3 pessoas a beber café na varanda, um jovem de boxers ao telefone, uma criancinha pequena aos pulos (propositadamente fechada do lado de fora da varanda?). E grande promiscuidade entre moderno e clássico. De um lado do canal, século XXI, do outro, século XIX. Casas de dois andares, de tijolinho, com direito a jardim e gnomos de jardim (e até um Shrek). Manchester no seu melhor. Em algumas zonas dos canais preservaram a maquinaria dos portos. Encontrei a versão mancuniana da Vigorosa e da Poderosa. Pequeno detour para visitar o estádio do Machester United. Se existe sobre a face da terra, existe na loja oficial com um logo do Manchester U estampado em cima. De chupetas a guardanapos, passando por tudo o resto. Regresso à beira dos canais, até ao Imperial War Museum. Edifícío espectacular. Exibição principal interessante. Exibição temporária "Saving lives: frontline medicine in a century of conflict" fabulosa. Uma timeline evolutiva de todos os aspectos da medicina de guerra. desde a WWI até ao Afganistão actual, transporte de pacientes, tipos de lesões, cirurgia e reabilitação. Secção particularmente interessante sobre a evolução da cirurgia ligada às guerras, nomeadamente ortopedia e plástica. Fotografias dos retalhos pediculados do Gillies, e prótese usadas para substituir narizes. Awesome. Depois do carnage, arte no The Lowry, um museu/teatro/escola/restaurante. Exposição sobre Pete Blake, que criou a capa do Sgt. Peppers's Lonely Hearts Club Band. Also very cool.

 Depois de ver o pôr do sol, casa. Esforço comunitário para fazer o jantar (a minha contribuição foi amusing conversation e cortar o pão). Bruscheta com bacon e cogumelos. Yummi. Descobri mais uma tentação por aqui: gelado Magnun versão embalagem à la Haagen Dazs. Dark chocolate with chocolate fudge center. Decadente. E muito bom. Vou aproveitar a minha new found friendship com o serviço de Nutrição do hospital para perceber se é possível sobreviver unicamente de doces. Facilitava-me bastante a vida.
















Your moment of Zen: